O avanço da IA ameaça colapsar recursos hídricos e energéticos dos EUA até 2030

Expansão da IA preocupa por consumir água em áreas já secas dos EUA (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Expansão da IA preocupa por consumir água em áreas já secas dos EUA (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A inteligência artificial (IA) é o motor de uma nova revolução tecnológica, mas seu crescimento vertiginoso tem um custo que começa a preocupar cientistas e autoridades ambientais. Um estudo recente da Universidade Cornell, publicado na Nature Sustainability, alerta que os centros de dados que sustentam essa revolução poderão sobrecarregar os recursos energéticos e hídricos dos Estados Unidos até 2030.

A estimativa indica que, mantendo o ritmo atual de expansão, a infraestrutura de IA poderá gerar até 44 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano e consumir mais de 1 bilhão de metros cúbicos de água. Em escala prática, isso equivale às emissões de até 10 milhões de carros adicionais e ao consumo hídrico de 10 milhões de residências americanas.

Principais alertas do estudo:

  • A demanda energética da IA cresce mais rápido que a descarbonização da rede elétrica;
  • A refrigeração de servidores consome volumes críticos de água;
  • Sem mudanças, metas de emissão zero tornam-se inatingíveis até 2030;
  • Polos de dados estão concentrados em regiões já afetadas pela escassez hídrica;
  • Localização estratégica e eficiência operacional podem reduzir até 86% do impacto.

O desafio de equilibrar inovação e sustentabilidade

Centros de dados de IA avançam até em regiões áridas como o Arizona (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Centros de dados de IA avançam até em regiões áridas como o Arizona (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Os cientistas destacam que o impacto ambiental da IA não é apenas uma questão de energia, mas também de infraestrutura e geografia. Muitos centros de dados estão sendo construídos em regiões áridas, como Nevada e Arizona, onde a falta de água já é uma preocupação crescente. Essa expansão desordenada pode intensificar a competição por recursos e afetar comunidades locais.

O estudo mostra que uma localização inteligente, priorizando áreas com menor estresse hídrico e redes elétricas mais limpas, pode reduzir em mais da metade o uso de água. Além disso, tecnologias de refrigeração líquida avançada, combinadas com maior eficiência de servidores, são soluções eficazes para mitigar o problema.

A corrida pela energia limpa

Mesmo com o avanço das energias renováveis, a descarbonização atual não acompanha o ritmo do crescimento computacional. Para atingir emissões líquidas zero até 2030, seria necessário instalar o equivalente a 28 gigawatts de energia eólica ou 43 gigawatts de energia solar adicionais, um desafio monumental para qualquer economia.

Regiões como o Meio-Oeste americano e a chamada “faixa de vento”, que inclui Texas, Nebraska e Dakota do Sul, apresentam o melhor equilíbrio entre baixo carbono e disponibilidade hídrica, tornando-se alternativas promissoras para novos polos tecnológicos sustentáveis.

Um ponto de virada para o futuro da IA

A pesquisa liderada por Tianqi Xiao e Fengqi You enfatiza que as escolhas feitas nesta década serão determinantes. A IA pode tanto acelerar o progresso climático quanto se tornar um novo fardo ambiental, dependendo das decisões de governos e empresas sobre onde e como construir suas infraestruturas.A adoção de políticas de planejamento coordenado entre indústria, agências reguladoras e concessionárias será essencial para evitar colapsos de recursos locais e garantir um futuro digital mais verde.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.