Camaleões revelam nervos ópticos espiralados que explicam visão de 360 graus 

Nervos ópticos espiralados permitem visão incrível nos camaleões. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Nervos ópticos espiralados permitem visão incrível nos camaleões. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Os camaleões são famosos por seus olhos móveis e sua capacidade de observar simultaneamente diferentes direções. Uma nova pesquisa publicada na Scientific Reports revela que essa habilidade está ligada a nervos ópticos longos e espiralados, uma estrutura inédita entre os lagartos, responsável por maximizar a amplitude de movimento ocular.

Mesmo após séculos de observação desde Aristóteles até Newton, a anatomia detalhada desses nervos permaneceu obscura até que a tomografia computadorizada (TC) permitiu estudos tridimensionais precisos.

Principais descobertas sobre a visão dos camaleões:

  • Os nervos ópticos possuem formato espiralado, semelhante a um fio de telefone antigo;
  • Cada olho pode se mover de forma independente, cobrindo quase 360 graus;
  • A coordenação dos olhos ocorre apenas durante a caça, permitindo precisão da língua balística;
  • O desenvolvimento embrionário mostra que os nervos se alongam e se enrolam antes da eclosão;
  • Observações tridimensionais confirmam que todas as espécies estudadas possuem nervos significativamente mais longos que outros lagartos.

Olhos móveis como câmeras de vigilância

Os olhos dos camaleões funcionam como câmeras independentes, permitindo varredura constante do ambiente. Para compensar a mobilidade limitada do pescoço, os nervos ópticos se enrolam, reduzindo a tensão e garantindo amplitude máxima de movimento sem danificar os tecidos.

Olhos móveis de camaleão revelam segredo anatômico milenar. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Olhos móveis de camaleão revelam segredo anatômico milenar. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Essa estrutura espiralada é uma adaptação rara entre vertebrados. Semelhante a alguns invertebrados, ela permite flexibilidade e resistência, garantindo que os camaleões consigam mirar presas com extrema precisão.

Histórico de descobertas e métodos modernos

Embora estudiosos antigos tenham observado a movimentação ocular dos camaleões, nenhuma descrição completa dos nervos ópticos existia até hoje. Aristóteles teorizou incorretamente a ausência de nervos ópticos; Newton e outros perpetuaram ideias incompletas; apenas com TC e dados digitais tridimensionais, a anatomia verdadeira foi revelada.

O uso de tomografia computadorizada e de modelos digitais 3D fornecidos por iniciativas como o oVert revolucionou a pesquisa em vertebrados. Cientistas puderam analisar nervos ópticos sem dissecções invasivas, preservando detalhes essenciais. Essa abordagem permitiu comparar diferentes espécies e compreender o desenvolvimento embrionário dos nervos espiralados.

Evolução e adaptação

A evolução dos nervos ópticos espiralados está diretamente ligada ao modo de vida arborícola dos camaleões. Com pescoço limitado e necessidade de visão ampla para caça e defesa, a espiral permite maximizar eficiência visual com esforço mínimo. Essa adaptação é um exemplo notável de como estruturas anatômicas complexas podem surgir para resolver desafios específicos do ambiente.

A descoberta abre portas para compreender se outros lagartos arborícolas desenvolveram mecanismos semelhantes. Além disso, o estudo reforça a importância de tecnologias digitais modernas na anatomia comparativa, permitindo revisitar espécies estudadas há séculos com nova perspectiva.Mesmo milênios após as primeiras observações, os camaleões continuam a revelar segredos anatômicos que impressionam cientistas e inspiram futuras pesquisas sobre visão e evolução animal.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.