Exploração humana altera a história evolutiva e a biodiversidade da Amazônia

Impactos humanos transformam a Amazônia e reduzem sua biodiversidade (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Impactos humanos transformam a Amazônia e reduzem sua biodiversidade (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, enfrenta impactos humanos que vão além do desmatamento. Novos estudos científicos mostram que essas intervenções estão transformando sua diversidade de árvores, a história evolutiva das espécies e a capacidade funcional das florestas, comprometendo serviços ecossistêmicos essenciais.

Embora a discussão global muitas vezes se concentre no sequestro de carbono, a floresta tropical abriga milhares de espécies de árvores e desempenha papéis ecológicos complexos, sendo crucial para a resiliência do ecossistema e a provisão de serviços ambientais.

Principais descobertas do estudo publicado na Global Change Biology:

  • Alteração na diversidade de espécies, com redução do número total de árvores;
  • Mudança na diversidade funcional, afetando características como densidade da madeira e área foliar;
  • Perda de linhagens evolutivas, comprometendo a história evolutiva das florestas;
  • Substituição de espécies de crescimento lento por árvores pioneiras;
  • Impactos profundos mesmo em florestas secundárias regeneradas após desmatamento.

Como a Amazônia está sendo transformada

O estudo analisou mais de 55.000 árvores em 215 parcelas, abrangendo florestas primárias intocadas, exploradas seletivamente, queimadas e secundárias. Os pesquisadores avaliaram não apenas a quantidade de espécies, mas também os tipos funcionais e a diversidade filogenética, revelando mudanças significativas em todos os níveis.

Florestas perturbadas perdem funções ecológicas e linhagens evolutivas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Florestas perturbadas perdem funções ecológicas e linhagens evolutivas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Mesmo medidas consideradas sustentáveis, como a exploração seletiva, demonstraram impactos profundos, mostrando que qualquer perturbação humana altera a composição e função da floresta. Florestas secundárias, embora se regenerem após desmatamento, apresentam características ecológicas e evolutivas distintas das áreas não perturbadas, indicando que o ecossistema não retorna completamente ao estado original.

Consequências ecológicas e evolutivas

A redução da diversidade funcional e evolutiva significa que as florestas perturbadas podem não fornecer todos os serviços ecossistêmicos presentes em áreas primárias. Isso inclui retenção de carbono, suporte a fauna e regulação do clima local. Além disso, a prevalência de espécies pioneiras altera a dinâmica de crescimento e interações ecológicas, afetando a resiliência a eventos climáticos extremos.

Conservação e ações urgentes

Proteger as florestas primárias remanescentes é fundamental para manter a biodiversidade e a herança evolutiva da Amazônia. Ao mesmo tempo, a gestão de florestas secundárias e mecanismos como fundos de conservação oferecem alternativas para mitigar os impactos humanos e apoiar a regeneração ecológica.

A pesquisa evidencia que biodiversidade e clima estão intrinsecamente ligados. Estratégias de conservação que considerem apenas carbono podem falhar se não levarem em conta a complexidade ecológica e evolutiva das florestas tropicais.

Compressão de habitats, exploração madeireira e incêndios estão redefinindo o ecossistema amazônico, mostrando que as florestas são vulneráveis não apenas a desmatamentos visíveis, mas também a mudanças sutis que alteram funções ecológicas essenciais. A proteção integrada é urgente para garantir que a Amazônia continue a fornecer serviços vitais ao planeta.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.