Um novo estudo publicado pela Cambridge University Press revelou detalhes impressionantes sobre as tatuagens encontradas nas múmias do povo Pazyryk, que viveu nas montanhas Altai, sul da Sibéria, durante a Idade do Ferro.
Utilizando imagens em infravermelho próximo de altíssima resolução, arqueólogos conseguiram reconstituir as técnicas usadas há mais de dois mil anos para criar as complexas marcas corporais que ainda permanecem visíveis nas peles mumificadas.
As múmias Pazyryk, preservadas pelo gelo do permafrost, já eram conhecidas desde o século XIX, mas as novas análises tecnológicas permitiram observar detalhes nunca antes documentados.
Técnicas sofisticadas de tatuagem na Idade do Ferro
As imagens revelaram que os tatuadores da época dominavam ferramentas de múltiplas pontas, capazes de produzir traços regulares e precisos, uma técnica surpreendentemente avançada para o período. Em alguns casos, as figuras foram finalizadas com instrumentos de ponta única, usados para criar detalhes finos em desenhos de animais, como cervos, felinos e pássaros.
Os pesquisadores descobriram que uma das múmias femininas analisadas exibia tatuagens distintas nos dois antebraços, com diferenças claras na qualidade do traço e no estilo artístico.
Diferenças revelam possíveis artistas distintos

O antebraço direito apresentava figuras mais elaboradas, com perspectiva, contornos refinados e composição cuidadosa, evidenciando o trabalho de um tatuador experiente. Já o braço esquerdo mostrava traços mais simples e menos precisos, indicando que poderia ter sido feito por outro artista ou em um momento de aprendizado do mesmo tatuador.
Essas descobertas lançam luz sobre a complexidade social e artística da cultura Pazyryk, parte do chamado “Mundo Cita”, uma vasta rede de povos nômades que dominaram as estepes euroasiáticas entre os séculos IX e II a.C.
Preservação única e significado cultural
Além de sua arte refinada, os Pazyryk eram conhecidos por seus rituais funerários e por preservar seus mortos em câmaras de madeira congeladas, o que permitiu a conservação excepcional de tecidos, couro, madeira e pele humana.
As imagens também mostraram que, após a morte, as tatuagens foram cortadas e costuradas durante o processo de preparação dos corpos. Isso sugere que, diferentemente de algumas culturas onde as marcas tinham valor espiritual após a morte, entre os Pazyryk elas estavam ligadas apenas à vida terrena.
Pigmentos e instrumentos usados na arte corporal
Análises químicas anteriores indicam que os pigmentos usados nas tatuagens provinham de materiais carbonizados, como fuligem e carvão vegetal, uma prática comum em várias partes do mundo antigo.
Embora as ferramentas originais não tenham sido encontradas, artefatos semelhantes em ouro e bronze sugerem que instrumentos especializados eram utilizados exclusivamente para essa arte.
Tecnologia moderna decifra arte milenar
A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional liderada por Gino Caspari e Aaron Deter-Wolf, destaca como a tecnologia moderna pode transformar a arqueologia, revelando aspectos pessoais e artísticos de povos que viveram há milênios.
As tatuagens de Pazyryk não eram apenas enfeites corporais, eram expressões de identidade, poder e beleza, gravadas na pele e preservadas pelo gelo por mais de 2.500 anos.

