Como o Brasil pode reduzir gases de efeito estufa antes do Acordo de Paris

Brasil pode zerar emissões de gases até 2040 com estratégias reais (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Brasil pode zerar emissões de gases até 2040 com estratégias reais (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O Brasil tem potencial de atingir a neutralidade de carbono até 2040, antecipando em uma década a meta prevista pelo Acordo de Paris. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Amazônia 4.0, em parceria com diversas universidades brasileiras, revela estratégias concretas para reduzir rapidamente os gases de efeito estufa (GEE) e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.

O estudo identificou duas abordagens principais, cada uma com impactos distintos e exigências próprias de investimento, mas ambas viáveis dentro de políticas públicas e privadas coerentes.

Principais destaques do estudo:

  • Redução drástica do desmatamento e prejuízos florestais até 2030;
  • Ampliação de programas de reflorestamento e restauração de ecossistemas;
  • Implementação de agricultura regenerativa para remover carbono da atmosfera;
  • Substituição progressiva de combustíveis fósseis por biocombustíveis e novas tecnologias energéticas;
  • Captura e armazenamento de carbono em larga escala, reduzindo a dependência de território.

AFOLU-2040 e o enfoque nas estratégias naturais

Ações imediatas podem antecipar metas do Acordo de Paris em 10 anos (Imagem: NunDigital/ Canva Pro)
Ações imediatas podem antecipar metas do Acordo de Paris em 10 anos (Imagem: NunDigital/ Canva Pro)

O primeiro caminho, denominado AFOLU-2040, concentra-se na gestão da terra, florestas e agricultura. A prioridade é utilizar soluções baseadas na natureza, como reflorestamento, restauração de ecossistemas e sistemas agroflorestais, que podem responder por mais de 87% da remoção de carbono até 2040.

Essa abordagem apresenta vantagens em termos de custo, exigindo aproximadamente 1% de investimento adicional sobre a meta original do país. Além disso, a implementação tende a gerar efeitos positivos no solo, biodiversidade e produção agrícola, garantindo benefícios ambientais e sociais concomitantes.

Energy-2040 como caminho energético

O segundo plano, chamado Energy-2040, foca na transição energética. Ele propõe substituir parte da matriz baseada em petróleo por biocombustíveis e expandir tecnologias para captura e armazenamento de carbono. Embora promissor, este cenário envolve investimentos 20% maiores e maior complexidade tecnológica, devido a equipamentos ainda em desenvolvimento e altos custos de infraestrutura.

Estudo indica caminhos naturais e energéticos para neutralidade climática (Imagem: Elnur/ Canva Pro)
Estudo indica caminhos naturais e energéticos para neutralidade climática (Imagem: Elnur/ Canva Pro)

Apesar disso, o Energy-2040 reduziria a dependência territorial e diminuiria o risco de retrocessos ambientais, abrindo caminho para uma economia de baixo carbono mais resiliente.

O sucesso de qualquer caminho depende da vontade política, da colaboração entre setores público e privado e da distribuição justa de custos e benefícios. Com planejamento adequado e recursos estratégicos, o Brasil não apenas atingiria a neutralidade climática, mas também poderia se tornar modelo global para países do Sul Global, demonstrando que crescimento econômico e ação climática ambiciosa podem caminhar juntos.

A pesquisa reforça que, com medidas realistas, o país pode acelerar a redução de emissões de gases e inspirar estratégias globais de sustentabilidade, consolidando o Brasil como protagonista na luta contra o aquecimento global.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.