Pesquisadores brasileiros deram um passo importante para a evolução da medicina diagnóstica. Um grupo da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu um dispositivo que simula o funcionamento do pulmão humano e seus nódulos, permitindo testes precisos em equipamentos de tomografia computadorizada (TC) sem a necessidade de exposição de pacientes à radiação.
O projeto, apoiado pela Fapesp e publicado na revista Medical Physics, representa um avanço significativo na área de radiologia experimental, com potencial para tornar mais acessível no Brasil um tipo de equipamento antes disponível apenas no exterior.
O que é um phantom e por que ele é essencial
O dispositivo, conhecido no meio científico como phantom, funciona como um “modelo anatômico de teste” usado por radiologistas e físicos médicos para calibrar tomógrafos. Ele permite medir a qualidade da imagem, ajustar níveis de radiação e definir protocolos de segurança para exames complexos, como os de detecção precoce do câncer de pulmão, um dos tipos mais letais no mundo.
O phantom desenvolvido na USP é híbrido, unindo medições físicas de imagem com características antropomórficas, ou seja, semelhantes às estruturas reais do corpo humano.
Por meio de impressão 3D e uso de resinas especiais, o simulador reproduz texturas e densidades próximas às dos tecidos pulmonares e nódulos, resultando em imagens quase idênticas às obtidas em pacientes reais.
Como a tecnologia brasileira se diferencia

Enquanto modelos internacionais, como o Mercury, oferecem medições técnicas de tomógrafos, o phantom nacional vai além: ele consegue replicar a aparência anatômica do pulmão humano com alta fidelidade.
Entre suas principais inovações estão:
- Módulos intercambiáveis que simulam pacientes de diferentes tamanhos;
- Segmentos pulmonares detalhados, capazes de imitar nódulos benignos e malignos;
- Compatibilidade com múltiplos tomógrafos, garantindo resultados padronizados.
O projeto passou por validação internacional na Universidade Radboud, nos Países Baixos, e apresentou desempenho comparável a equipamentos de alto custo disponíveis no mercado global.
Impacto para o diagnóstico e a saúde pública
O desenvolvimento nacional preenche uma lacuna importante: os phantoms importados de pulmão custam cerca de R$ 130 mil, o que limita seu uso em centros de pesquisa e hospitais públicos. Com a versão brasileira, o país poderá produzir seus próprios modelos de forma acessível, ampliando o controle de qualidade em exames de tomografia e otimizando protocolos de detecção de nódulos pulmonares.
Além disso, o grupo da USP já trabalha em novas versões antropomórficas, como simuladores de abdômen e crânio, e planeja incorporar inteligência artificial para medir o volume e a evolução de nódulos com ainda mais precisão.
Inovação que salva vidas
Com a possibilidade de reduzir custos, aprimorar diagnósticos e aumentar a segurança dos exames, o simulador brasileiro representa um marco para a ciência médica nacional.
A combinação entre engenharia, física e saúde mostra que o país está pronto para desenvolver tecnologias de ponta capazes de transformar a forma como doenças pulmonares são detectadas e tratadas.

