Microplásticos no corpo podem afetar hormônios e fertilidade, diz estudo

Partículas plásticas podem afetar óvulos e espermatozoides. (Foto: Pcess609 via Canva)
Partículas plásticas podem afetar óvulos e espermatozoides. (Foto: Pcess609 via Canva)

Os plásticos que usamos diariamente não desaparecem quando descartados. Com o tempo, eles se fragmentam e se transformam em microplásticos, pedaços minúsculos que hoje estão espalhados por todo o planeta, e também dentro de nós.

Essas partículas foram encontradas em tecidos humanos sensíveis, incluindo o sêmen, os óvulos e até a placenta, revelando que a poluição plástica ultrapassa fronteiras biológicas e pode interferir na capacidade reprodutiva de homens e mulheres.

A rota invisível dos microplásticos

Os microplásticos surgem da decomposição de garrafas, roupas sintéticas, pneus, cosméticos e embalagens, e se dispersam na água, no ar e no solo. Assim, chegam à nossa mesa através da comida, da respiração e até da poeira doméstica.

Pesquisadores estimam que cada pessoa consome até 5 gramas dessas partículas por semana. Dentro do organismo, elas não passam despercebidas: podem causar inflamações, desequilíbrios hormonais e danos celulares, fatores que afetam diretamente a saúde reprodutiva.

Consequências para homens e mulheres

Pesquisas ligam microplásticos a desequilíbrios hormonais. (Foto: SivStockMedia via Canva)
Pesquisas ligam microplásticos a desequilíbrios hormonais. (Foto: SivStockMedia via Canva)

Nos homens, a presença de microplásticos foi relacionada à redução da mobilidade dos espermatozoides e à diminuição da qualidade do sêmen, o que pode comprometer a fertilidade. Nas mulheres, há indícios de que essas partículas alterem o funcionamento dos ovários, prejudicando o desenvolvimento dos óvulos e o equilíbrio hormonal.

Vale destacar que substâncias presentes nos plásticos, como o bisfenol A (BPA) e os ftalatos, são conhecidas por agir como disruptores endócrinos, interferindo na produção e na regulação dos hormônios sexuais.

Poluição que começa antes do nascimento

A descoberta de partículas plásticas em placentas humanas indica que a exposição pode ocorrer ainda durante a gestação. Isso levanta preocupações sobre possíveis efeitos no desenvolvimento fetal e reforça a ligação entre meio ambiente e saúde reprodutiva.

O impacto não é apenas individual: ele revela que a poluição ambiental está se tornando um fator biológico, capaz de alterar funções essenciais do corpo humano.

Como reduzir a exposição

Embora evitar completamente os microplásticos seja impossível, algumas atitudes ajudam a diminuir o contato diário:

  • Substituir recipientes plásticos por vidro ou aço inox;
  • Evitar aquecer alimentos em potes plásticos;
  • Escolher produtos sem BPA;
  • Reduzir o uso de descartáveis e tecidos sintéticos.

Medidas coletivas também são urgentes: políticas ambientais e incentivo à reciclagem podem interromper o ciclo de contaminação antes que chegue ao nosso corpo.

Os microplásticos são o reflexo mais nítido de como a poluição ambiental afeta a vida humana de forma silenciosa e profunda. Proteger o meio ambiente, nesse contexto, é também proteger a fertilidade e o futuro das próximas gerações.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.