Mata Atlântica dividida coloca anta-brasileira e regeneração florestal em perigo

Fragmentação da Mata Atlântica ameaça a sobrevivência da anta-brasileira (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Fragmentação da Mata Atlântica ameaça a sobrevivência da anta-brasileira (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A Mata Atlântica enfrenta uma ameaça silenciosa, mas profunda: a fragmentação da floresta, que compromete a sobrevivência da anta-brasileira (Tapirus terrestris). Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) analisaram 42 paisagens do bioma no estado de São Paulo, entre 2014 e 2019, e constataram que a configuração da vegetação influencia diretamente a presença desses grandes mamíferos.

As antas desempenham papel essencial no ecossistema, principalmente como dispersoras de sementes, contribuindo para a reconstrução da vegetação e o aumento do estoque de carbono nas florestas. A ausência desses animais impacta negativamente a saúde florestal, comprometendo funções ecológicas vitais.

Principais impactos da fragmentação para as antas:

  • Redução da ocorrência da espécie em áreas isoladas;
  • Menor eficiência na dispersão de sementes e regeneração vegetal;
  • Diminuição do estoque de carbono nas florestas fragmentadas;
  • Maior exposição a atropelamentos devido a rodovias próximas;
  • Intensificação da caça, facilitada pelo acesso a fragmentos menores.

Como a estrutura da paisagem influencia a sobrevivência

O estudo publicado na revista Biological Conservation revelou que o arranjo e a proximidade dos fragmentos florestais são determinantes para a presença da anta-brasileira. Fragmentos maiores e mais conectados aumentam a chance de sobrevivência da espécie, enquanto florestas altamente divididas e isoladas resultam na diminuição populacional ou até no desaparecimento local do animal.

Antas ajudam a regenerar florestas e manter o estoque de carbono (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Antas ajudam a regenerar florestas e manter o estoque de carbono (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Além da fragmentação, fatores como tráfego de veículos e caça ilegal aumentam a vulnerabilidade das antas. Rodovias próximas de áreas naturais elevam o risco de acidentes, enquanto fragmentos menores facilitam a exploração humana, intensificando a caça.

Estratégias para salvar a anta e recuperar a floresta

Para proteger a anta-brasileira e, por consequência, a saúde da Mata Atlântica, é fundamental reconectar os fragmentos florestais. O chamado efeito de resgate permite que populações mais saudáveis apoiem aquelas em declínio, aumentando a sobrevivência da espécie.

Medidas essenciais incluem:

  • Criação de corredores ecológicos entre fragmentos isolados;
  • Recuperação de áreas degradadas e reflorestamento estratégico;
  • Monitoramento contínuo da população de antas e uso do solo;
  • Educação ambiental e fiscalização contra caça ilegal;
  • Planejamento de rodovias e infraestrutura minimizando riscos para a fauna.

A proteção da anta-brasileira vai além da preservação de uma espécie; ela representa a manutenção de processos ecológicos fundamentais, como dispersão de sementes e sequestro de carbono, reforçando a resiliência da Mata Atlântica frente às mudanças ambientais.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.