Propranolol é usado para ansiedade, mas médicos alertam riscos

Propranolol reduz tremores e coração acelerado. (Foto: Shisuka via Canva)
Propranolol reduz tremores e coração acelerado. (Foto: Shisuka via Canva)

Nos últimos anos, os betabloqueadores, remédios tradicionalmente usados para problemas cardíacos, têm sido cada vez mais procurados por pessoas que enfrentam ansiedade de desempenho. O interesse pelo uso desses medicamentos cresceu em parte devido à divulgação nas redes sociais, mas também reflete o aumento da pressão por performance em ambientes profissionais e acadêmicos.

Esses medicamentos atuam no corpo, não na mente, oferecendo alívio de sintomas físicos como coração acelerado, tremores e suor excessivo, mas não resolvem a raiz emocional da ansiedade.

Como os betabloqueadores atuam

Os betabloqueadores, incluindo o propranolol, funcionam bloqueando receptores de adrenalina, o que reduz as respostas fisiológicas do corpo ao estresse. Entre os efeitos observados estão:

  • Diminuição da frequência cardíaca
  • Controle da pressão arterial elevada
  • Redução de tremores e agitação física

O efeito costuma ser temporário, geralmente algumas horas, sendo mais indicado para situações pontuais, como provas, apresentações ou entrevistas.

Popularidade crescente e contexto atual

Medicamento não trata a causa emocional da ansiedade. (Foto: Getty Images via Canva)
Medicamento não trata a causa emocional da ansiedade. (Foto: Getty Images via Canva)

Apesar de existirem desde os anos 1960, os betabloqueadores retomaram destaque recentemente. Entre os fatores que explicam essa popularidade estão:

  • Relatos de influenciadores sobre ansiedade e desempenho
  • Cultura atual de alta produtividade e exigência constante
  • Facilidade de acesso a algumas apresentações do medicamento

Contudo, especialistas alertam que a medicação não deve ser banalizada. O uso contínuo pode gerar dependência psicológica, fazendo a pessoa acreditar que não consegue lidar com desafios sem o medicamento.

Possíveis efeitos adversos e cuidados

Embora geralmente seguros, o uso de betabloqueadores sem supervisão médica pode causar:

  • Pressão arterial baixa e desmaios
  • Frequência cardíaca muito lenta (bradicardia)
  • Crises respiratórias em pessoas com asma ou bronquite
  • Ocultação de sintomas cardíacos graves, atrasando diagnósticos

Grupos que requerem atenção especial incluem idosos, pessoas com pressão baixa e portadores de doenças respiratórias.

Ferramenta pontual, não substituto de terapia

O uso pontual de betabloqueadores pode ser útil para controlar sintomas físicos da ansiedade, mas não substitui acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Para resultados duradouros, é essencial trabalhar a origem emocional da ansiedade, promovendo autoconfiança e autonomia emocional, enquanto o medicamento atua apenas como auxílio momentâneo em situações de estresse.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.