Por muito tempo, os antidepressivos foram vistos apenas como moduladores do humor. No entanto, novas evidências mostram que seus efeitos vão além do cérebro, alcançando o intestino, onde vivem trilhões de microrganismos que influenciam a saúde física e mental.
Um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) revelou que probióticos específicos podem ajudar a reverter alterações negativas causadas pelo uso prolongado de medicamentos como sertralina e escitalopram.
Quando o tratamento da mente afeta o intestino
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são amplamente utilizados no tratamento da ansiedade e da depressão. Embora eficazes, eles podem modificar o equilíbrio da microbiota intestinal, favorecendo inflamações e desconfortos gastrointestinais.
Com o tempo, esse desequilíbrio, conhecido como disbiose, pode aumentar a permeabilidade intestinal, comprometendo a barreira que protege o organismo contra toxinas e prejudicando a comunicação entre o intestino e o cérebro.
Probióticos como aliados na restauração do equilíbrio

No estudo, cepas como Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175 mostraram potencial para restaurar a flora intestinal e reduzir substâncias inflamatórias.
Entre os principais benefícios observados estão:
- Fortalecimento da barreira intestinal, reduzindo inflamações;
Aumento da produção de ácidos graxos benéficos, que alimentam as células do intestino; - Redução de compostos tóxicos, como o excesso de amônia;
- Melhor regulação do eixo intestino-cérebro, favorecendo o equilíbrio emocional.
Esses resultados reforçam que a saúde intestinal influencia diretamente o bem-estar mental, afetando inclusive a eficácia dos tratamentos psiquiátricos.
A importância dos hábitos que alimentam o microbioma
Além da suplementação, adotar hábitos saudáveis é essencial para manter a microbiota equilibrada. A combinação entre probióticos e uma dieta rica em fibras pode potencializar os resultados.
Inclua no dia a dia alimentos como:
- Frutas frescas e vegetais variados;
- Aveia, feijão, lentilha e grão-de-bico;
- Fermentados naturais, como iogurte, kefir e chucrute.
Evitar ultraprocessados, álcool e excesso de açúcar também é fundamental para que as bactérias boas prosperem e sustentem a saúde do intestino e, por consequência, da mente.
Nova perspectiva para o tratamento da depressão
A descoberta abre caminho para abordagens mais integradas, nas quais o cuidado com o sistema digestivo se torna parte do tratamento da saúde mental. Embora o estudo ainda precise de ensaios clínicos com pacientes, os resultados laboratoriais apontam para um futuro promissor.
Afinal, equilibrar o intestino pode ser uma das chaves para melhorar a resposta aos antidepressivos e reduzir seus efeitos colaterais.

