O cometa 3I/ATLAS, um visitante interestelar, vem intrigando astrônomos desde sua descoberta em julho. Diferente de qualquer objeto do nosso sistema solar, ele carrega os efeitos de bilhões de anos de radiação cósmica que remodelaram completamente sua superfície. Observações recentes do Telescópio Espacial James Webb (JWST), combinadas com simulações computacionais, revelam que o cometa desenvolveu uma crosta espessa e irradiada, transformando sua composição química e física em relação ao material original de sua estrela de origem.
Segredos revelados pela radiação cósmica
Durante sua longa jornada interestelar, o 3I/ATLAS foi atingido por raios cósmicos galácticos, partículas de alta energia vindas de fora do sistema solar. Esses raios provocaram mudanças profundas em seu gelo, convertendo monóxido de carbono (CO) em dióxido de carbono (CO₂). Como resultado, sua superfície não representa mais sua composição inicial, mas sim o impacto acumulado da radiação ao longo de aproximadamente 7 bilhões de anos.
Principais impactos da radiação cósmica no 3I/ATLAS:
- Formação de uma crosta irradiada de 15 a 20 metros de profundidade;
- Enriquecimento extremo de CO₂, detectado pelo JWST;
- Alteração da estrutura física do gelo, diferente do material original;
- Proteção do núcleo original apenas por camadas externas, ainda intocado;
- Evidência de que cometas interestelares refletem sua história de viagem, não apenas sua origem.
Viagem pelo sistema solar e periélio

Atualmente, o cometa 3I/ATLAS orbita o Sol, tendo atingido o periélio, ou seja, o ponto mais próximo da estrela, no final de outubro. À medida que se aproxima do Sol, o calor faz o gelo sublimar, liberando gases que, até então, eram principalmente da camada irradiada. É possível que, com o tempo, a erosão solar revele materiais originais de sua estrela hospedeira, oferecendo pistas sobre sua composição inicial.
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O estudo também se apoiou em pesquisas anteriores sobre o cometa 67P, que orbita entre Júpiter e a Terra. Adaptando modelos de 2020 publicados no The Astrophysical Journal Letters, os pesquisadores simularam os efeitos da radiação cósmica ao longo de bilhões de anos, confirmando que o envelhecimento e a transformação do 3I/ATLAS são extremos. Apesar das mudanças, o cometa ainda contém informações valiosas sobre processos químicos interestelares.
Implicações científicas e futuros estudos
A descoberta do 3I/ATLAS desafia paradigmas sobre objetos interestelares. Diferentemente do que se imaginava, eles podem ser mais produtos de sua jornada pelo espaço do que de seus sistemas de origem. Para os cientistas, isso significa que é necessário considerar processos de envelhecimento e radiação cósmica ao analisar a composição química desses visitantes.
Além disso, futuras observações após o periélio permitirão comparar gases liberados antes e depois da aproximação solar, oferecendo uma visão inédita sobre a verdadeira natureza de cometas interestelares e sua história milenar.

