Pacientes com histórico de AVC hemorrágico, a forma mais grave de acidente vascular cerebral, podem se beneficiar de uma polipílula tripla, que combina três anti-hipertensivos em doses baixas. Estudos recentes mostram que essa estratégia reduz em até 60% o risco de recorrência de AVC hemorrágico, enquanto diminui em 39% a probabilidade de qualquer tipo de novo AVC.
O estudo Trident, liderado pelo The George Institute for Global Health e conduzido no Brasil pelo Hospital Moinhos de Vento, acompanhou 1.670 pacientes com histórico de AVC hemorrágico.
Metade recebeu a polipílula, e a outra metade, placebo, mantendo todos o tratamento preventivo padrão. O acompanhamento durou três anos, permitindo avaliar o efeito da combinação na redução da pressão arterial e na prevenção de novos episódios.
Por que a polipílula é tão eficaz
A combinação inclui telmisartana, anlodipina e indapamida, cada uma com um mecanismo de ação distinto. Essa união oferece múltiplos benefícios:
- Uso simplificado: uma única pílula diária aumenta a adesão ao tratamento.
- Redução de efeitos colaterais: doses menores de cada medicamento diminuem o risco de reações adversas.
- Efeito rápido na pressão arterial: a ação combinada permite controle mais eficiente da hipertensão, fator crítico na prevenção de AVC hemorrágico.
Polipílulas desse tipo já são recomendadas por diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Hipertensão e da Organização Mundial da Saúde, especialmente para pacientes idosos ou com múltiplas comorbidades.
Hipertensão: um inimigo silencioso

A hipertensão arterial é uma doença crônica, frequentemente assintomática, que eleva o risco de AVC, infartos, insuficiência cardíaca e doenças renais. No Brasil, apenas 40% dos hipertensos estão diagnosticados, e poucos mantêm a pressão controlada. O tratamento envolve:
- Mudanças no estilo de vida: reduzir sal e gordura, praticar exercícios, controlar estresse e evitar álcool e cigarro.
- Medicação farmacológica: individualizada, podendo envolver uma ou mais classes de anti-hipertensivos.
Um dos principais desafios é a adesão ao tratamento. Muitos pacientes interrompem o uso dos medicamentos por não apresentarem sintomas, aumentando o risco de complicações graves.
Estratégias para melhorar o controle
A polipílula tripla simplifica a rotina do paciente, mas o controle eficaz depende também de:
- Monitoramento regular da pressão arterial.
- Constância no uso da medicação diária.
- Suporte social e acesso adequado a serviços de saúde.
- Educação sobre riscos de interrupção do tratamento.
Mesmo pequenas pausas no uso dos anti-hipertensivos podem causar efeito rebote, com elevação abrupta da pressão, aumentando o risco de infarto, AVC e arritmias.
A polipílula tripla surge, portanto, como uma solução inovadora, capaz de simplificar o tratamento e reduzir drasticamente o risco de AVC hemorrágico, oferecendo esperança para pacientes que já enfrentaram episódios graves e complexos.
A expectativa é que os resultados completos do estudo Trident sejam publicados no primeiro semestre de 2026, consolidando ainda mais o potencial dessa abordagem.

