Cientistas revelam novas pistas de vida nas nuvens de planetas distantes

Telescópios futuristas buscarão microrganismos nas nuvens de mundos distantes (Imagem: Canva Pro)
Telescópios futuristas buscarão microrganismos nas nuvens de mundos distantes (Imagem: Canva Pro)

Um grupo internacional de cientistas investigou como microrganismos suspensos no ar poderiam deixar bioassinaturas detectáveis em atmosferas de exoplanetas. O estudo, publicado no arXiv, propõe uma abordagem inédita para identificar vida microbiana flutuante em mundos distantes.

Para compreender esse fenômeno, os pesquisadores analisaram sete cepas microbianas aéreas da atmosfera terrestre, incluindo espécies como Modestobacter versicolor, Micrococcus luteus e Curtobacterium aetherium. Essas amostras serviram como modelo para testar como micróbios poderiam refletir a luz e gerar padrões espectrais únicos.

O que são bioassinaturas espectrais

Em termos simples, bioassinaturas espectrais são marcas químicas deixadas pela vida na forma de luz refletida. Quando a luz de uma estrela atravessa ou reflete na atmosfera de um planeta, ela carrega informações sobre sua composição química.

Micróbios terrestres ajudam a revelar possíveis sinais de vida em exoplanetas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Micróbios terrestres ajudam a revelar possíveis sinais de vida em exoplanetas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Nos experimentos de laboratório, os cientistas observaram que cada amostra microbiana apresentava assinaturas ópticas distintas, especialmente associadas a biopigmentos com proteção contra radiação ultravioleta (UV), um possível traço de adaptação à vida nas nuvens.

Essas descobertas sugerem que, em missões futuras, telescópios poderiam identificar bioassinaturas semelhantes ao observar a luz refletida por atmosferas exoplanetárias.

Nuvens como ecossistemas extraterrestres

A pesquisa reforça uma hipótese antiga, inspirada nas ideias de Carl Sagan e Ed Salpeter: as nuvens podem abrigar ecossistemas vivos. Em vez de procurar apenas em oceanos ou superfícies rochosas, cientistas agora consideram que camadas atmosféricas densas, como as de Vênus ou Júpiter, poderiam sustentar microrganismos flutuantes.

Isso representa um terceiro paradigma na astrobiologia:

  • 1º: vida baseada em superfícies sólidas;
  • 2º: vida oceânica;
  • 3º: vida atmosférica.

Essa nova linha de investigação amplia as possibilidades da astrobiologia moderna, propondo que planetas com nuvens espessas também podem ser habitáveis.

O papel dos telescópios espaciais

Bioassinaturas espectrais podem indicar vida flutuando em atmosferas alienígenas (Imagem: Photo Library/ Canva Pro)
Bioassinaturas espectrais podem indicar vida flutuando em atmosferas alienígenas (Imagem: Photo Library/ Canva Pro)

Com o avanço da espectroscopia, telescópios como o James Webb (JWST) já estão decifrando atmosferas de exoplanetas como WASP-39 b e WASP-17 b, onde foram detectados compostos químicos e partículas minerais.

No futuro, o Habitable Worlds Observatory (HWO), previsto para a década de 2040, deverá observar pelo menos 25 exoplanetas habitáveis, buscando precisamente esse tipo de assinatura luminosa microbiana. Além disso, investigará galáxias, estrelas e corpos do Sistema Solar, ampliando a fronteira do conhecimento humano.

Um novo olhar para mundos distantes

O estudo abre caminho para que as nuvens de exoplanetas deixem de ser apenas formações meteorológicas e passem a ser vistas como ambientes potenciais para a vida. Se futuras observações confirmarem essas bioassinaturas, estaremos diante de uma das maiores descobertas científicas da história: a existência de vida fora da Terra, flutuando entre as nuvens de mundos alienígenas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.