Nanotubos cerebrais podem ser a chave para frear o Alzheimer

Conexões invisíveis revelam novo tipo de comunicação cerebral. (Foto: Getty Images via Canva)
Conexões invisíveis revelam novo tipo de comunicação cerebral. (Foto: Getty Images via Canva)

O cérebro humano continua a surpreender a ciência. Pesquisadores da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, identificaram uma forma inédita de conexão entre os neurônios: os nanotubos dendríticos, estruturas tão finas que escapavam até mesmo às técnicas de observação mais avançadas.

Esses minúsculos “túneis” estabelecem uma ligação direta entre neurônios, diferente das conhecidas sinapses químicas. Em vez de dependerem da liberação de neurotransmissores, os nanotubos permitem que íons, moléculas e proteínas passem de uma célula para outra de maneira contínua. Essa descoberta, publicada na revista Science, pode revolucionar o entendimento sobre como o cérebro processa informações e desenvolve doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

Nanotubos dendríticos: o elo invisível entre os neurônios

Nanotubos ligam neurônios e intrigam a ciência moderna. (Foto: Getty Images via Canva)
Nanotubos ligam neurônios e intrigam a ciência moderna. (Foto: Getty Images via Canva)

As novas estruturas foram observadas tanto em tecidos cerebrais humanos quanto em camundongos, com o auxílio de microscopia de super-resolução e técnicas de aprendizado de máquina. Esses nanotubos funcionam como pontes de comunicação, conectando diretamente os dendritos, ramificações que recebem impulsos elétricos, sem a necessidade de sinapses tradicionais.

A equipe científica notou que essas conexões permitem o fluxo de cálcio, um dos principais mensageiros eletroquímicos das células nervosas, e o transporte de proteínas associadas ao Alzheimer, como a amiloide-β (Aβ).

O elo entre nanotubos e o Alzheimer precoce

Em testes laboratoriais, os pesquisadores observaram que a amiloide-β conseguia se mover entre neurônios através dos nanotubos. Quando a formação dessas estruturas foi bloqueada, o transporte cessou, sugerindo que elas podem atuar como vias de propagação da doença dentro do cérebro.

Mais impressionante ainda: em modelos de camundongos com predisposição ao Alzheimer, a quantidade de nanotubos aumentou antes mesmo do aparecimento das placas amiloides clássicas. Isso indica que o processo patológico pode começar muito antes dos sintomas clínicos, o que reforça a importância de diagnósticos precoces e acompanhamento neurológico constante.

Desafios e próximos passos da pesquisa

Apesar da descoberta, muitas perguntas permanecem:

  • Quando e por que esses nanotubos se formam em cérebros saudáveis?
  • Eles participam apenas de doenças neurodegenerativas ou também de processos normais de aprendizado e memória?
  • É possível bloquear seletivamente sua formação para impedir o avanço do Alzheimer?

Esses questionamentos guiam novas linhas de pesquisa, que podem levar a tratamentos preventivos ou a estratégias para desacelerar a progressão da doença antes que ela cause danos irreversíveis.

O que essa descoberta representa

A identificação dos nanotubos dendríticos revela que o cérebro possui mecanismos de comunicação muito mais complexos do que se imaginava.

Além de abrir caminho para novas terapias, o estudo reforça a ideia de que o Alzheimer pode ter início silencioso, quando essas pontes microscópicas começam a transferir proteínas tóxicas entre neurônios.

O avanço da ciência neurológica mostra que, quanto mais se compreende a microarquitetura cerebral, mais perto estamos de interromper o ciclo das doenças neurodegenerativas e preservar a mente humana por mais tempo.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.