Proteínas no sangue revelam danos cerebrais anos antes da esclerose múltipla

Proteínas no sangue podem revelar a EM cedo. (Foto: Getty Images via Canva)
Proteínas no sangue podem revelar a EM cedo. (Foto: Getty Images via Canva)

A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune que, silenciosamente, começa a danificar o cérebro muito antes de qualquer sintoma clínico. Pesquisas recentes da Universidade da Califórnia, San Francisco (UCSF) revelam um cronograma detalhado do ataque inicial ao sistema nervoso, abrindo caminho para diagnósticos precoces e futuras estratégias de prevenção.

O ataque silencioso da EM

Novo estudo mostra início precoce da EM no cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)
Novo estudo mostra início precoce da EM no cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)

Durante anos, os cientistas não tinham clareza sobre quando o dano cerebral começava nem quais células eram afetadas primeiro. Agora, análises de milhares de proteínas no sangue mostraram que o sistema imunológico ataca primeiro a bainha de mielina, a camada protetora das fibras nervosas.

Este ataque inicial é seguido, cerca de um ano depois, por danos nas fibras nervosas, indicando que a doença progride mesmo antes de sinais clínicos surgirem.

Marcadores precoces identificados

O estudo analisou amostras de sangue de 134 pessoas, coletadas anos antes do diagnóstico de EM, utilizando o Repositório de Soros de Defesa dos EUA, que guarda amostras de candidatos militares. Os principais achados incluem:

  • MOG (glicoproteína de oligodendrócitos de mielina): aumento detectado sete anos antes do diagnóstico, sinalizando o início da destruição da mielina.
  • Cadeias leves de neurofilamentos: surgem cerca de um ano depois, marcando lesão nas fibras nervosas.
  • IL-3 e outras proteínas imunológicas: indicam que o sistema imunológico já está ativo, atacando o tecido cerebral e da medula espinhal.

No total, cerca de 50 proteínas foram identificadas como potenciais indicadores precoces da doença, com 21 delas sendo avaliadas para um possível exame de sangue preditivo.

Implicações para diagnóstico e prevenção

A descoberta dessas proteínas abre possibilidades inéditas:

  • Diagnóstico precoce: detectar a EM antes dos sintomas pode transformar o acompanhamento clínico.
  • Monitoramento contínuo: medir níveis proteicos específicos no sangue ajuda a acompanhar a progressão da doença.
  • Prevenção futura: entender o início silencioso da EM cria oportunidades para intervenções antes de danos irreversíveis.

Este avanço científico foi publicado na revista Nature Medicine e envolveu pesquisadores renomados como Ahmed Abdelhaq, Ari Green e Stephen L. Hauser, entre outros membros da equipe UCSF.

O futuro da pesquisa em EM

Com o desenvolvimento de exames de sangue baseados nesses marcadores, médicos poderão identificar pessoas em risco e adotar estratégias para reduzir danos cerebrais futuros. Além disso, o estudo reforça a importância de investigações proteômicas e imunológicas para entender doenças neurodegenerativas silenciosas.

O trabalho marca um passo decisivo na luta contra a EM, oferecendo esperança de diagnósticos mais rápidos, tratamentos mais eficazes e, eventualmente, a possibilidade de prevenção.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.