A chegada do cabotegravir injetável representa uma das maiores inovações recentes na prevenção do HIV. Aplicado a cada dois meses, o medicamento oferece uma alternativa de profilaxia pré-exposição (PrEP) de longa duração, reduzindo um dos principais desafios da forma oral: a baixa adesão.
Em vez de depender da lembrança diária para tomar comprimidos, a pessoa precisa apenas comparecer a uma aplicação bimestral, o que aumenta significativamente a eficácia do tratamento preventivo.
Ensaios clínicos publicados em revistas como a Lancet HIV demonstraram que o cabotegravir pode reduzir o risco de infecção por HIV em até 95%, superando os índices observados nas versões orais da PrEP.
Essa eficiência pode representar um marco no controle da epidemia, especialmente em grupos mais vulneráveis, como jovens e homens que fazem sexo com homens, entre os quais a adesão diária aos comprimidos ainda é um desafio.
Potencial de impacto em saúde pública

O Brasil registra cerca de 46 mil novos casos de HIV por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Se adotado amplamente, o cabotegravir pode evitar centenas de milhares de novas infecções até 2033, além de reduzir o custo a longo prazo do tratamento antirretroviral, que é vitalício.
Assim, investir na prevenção com essa nova forma de PrEP seria não apenas uma medida sanitária eficaz, mas também economicamente estratégica para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, o cabotegravir está disponível apenas na rede privada, com custo aproximado de R$ 4 mil por dose, o que torna o acesso restrito às classes de maior renda. Para que essa inovação cumpra seu potencial coletivo, será essencial a incorporação ao SUS, algo que já está sob análise pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec).
O desafio do acesso e o futuro da prevenção
A incorporação da PrEP injetável no sistema público seria um passo decisivo para manter o protagonismo histórico do Brasil no combate ao HIV. Entretanto, será necessário negociar preços e garantir infraestrutura para aplicação regular das doses.
Novas terapias também estão em desenvolvimento, como o lenacapavir, que pode oferecer proteção semestral. Essas inovações sinalizam um futuro em que a prevenção dependerá de menos doses anuais, mas exigirão preparo e planejamento para não acentuar desigualdades no acesso.
Garantir que o cabotegravir chegue a quem mais precisa não é apenas uma questão de inovação científica, mas de equidade em saúde pública. Com a estratégia certa, o Brasil pode transformar essa descoberta em mais um marco na luta contra o HIV.