Tecnologia inovadora usa saliva para acompanhar depressão e esquizofrenia

Dispositivo monitora depressão e esquizofrenia em minutos. (Foto: Getty Images / Canva Pro)
Dispositivo monitora depressão e esquizofrenia em minutos. (Foto: Getty Images / Canva Pro)

Nos últimos anos, o avanço da biotecnologia e dos biossensores têm permitido desenvolver ferramentas inovadoras para monitoramento clínico de condições complexas, como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar

Entre essas inovações, um dispositivo portátil e de baixo custo, criado por pesquisadores da USP em parceria com a Embrapa Instrumentação, surge como uma alternativa promissora para acompanhar alterações biológicas relacionadas à saúde mental de forma prática e acessível.

Tecnologia que transforma saliva em informação

Biossensor detecta BDNF na saliva rapidamente e com baixo custo. (Foto: Getty Images / Canva Pro)
Biossensor detecta BDNF na saliva rapidamente e com baixo custo. (Foto: Getty Images / Canva Pro)

O dispositivo consiste em uma tira flexível serigrafada com eletrodos que analisam gotas de saliva, fornecendo em poucos minutos a concentração de BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Factor). Esta proteína desempenha papel essencial na manutenção e crescimento dos neurônios, contribuindo para aprendizado, memória e funções cognitivas. Alterações nos níveis de BDNF estão associadas a diversos distúrbios neurológicos e psiquiátricos, sendo um indicador relevante para acompanhamento clínico.

Diferente de métodos tradicionais, como ensaio imunoenzimático ou cromatografia líquida de alta eficiência, que exigem laboratórios e grandes volumes de amostra, o biossensor permite detecção rápida e sensível, em faixas que vão de 10⁻²⁰ a 10⁻¹⁰ g/mL, com leitura imediata em dispositivos móveis via Bluetooth

Além disso, sua produção é econômica, estimada em US$ 2,19 por unidade, tornando-o potencialmente acessível a diferentes perfis de pacientes.

Aplicações práticas e monitoramento contínuo

Entre as vantagens do sensor, destacam-se:

  • Capacidade de identificar níveis baixos de BDNF, sinalizando alterações que podem estar ligadas à depressão e outros transtornos.
  • Possibilidade de acompanhar respostas ao tratamento ao medir variações da proteína ao longo do tempo.
  • Portabilidade e rapidez, permitindo uso fora de laboratórios, em clínicas e eventualmente em ambientes domiciliares.

Estudos recentes publicados na ACS Polymers Au e no Chemical Engineering Journal demonstram que o sensor é fiável e consistente, com resultados que podem ser incorporados em estratégias personalizadas de cuidado.

Contexto e relevância

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 1 bilhão de pessoas convivem com algum tipo de transtorno mental, sendo ansiedade e depressão os mais prevalentes. 

No Brasil, o aumento de afastamentos do trabalho por questões de saúde mental destaca a necessidade de ferramentas práticas e acessíveis para monitoramento contínuo e prevenção de agravamento dos quadros clínicos.

O desenvolvimento deste biossensor reflete um movimento global na medicina personalizada, em que a tecnologia biomédica contribui para acompanhar indivíduos de forma mais precisa, ajustando tratamentos e oferecendo dados importantes para profissionais de saúde.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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