Poucos objetos despertam tanta curiosidade quanto um cometa interestelar cruzando o Sistema Solar. O 3I/ATLAS, descoberto recentemente, é um desses raríssimos viajantes que não pertencem ao domínio do Sol e, por isso, oferece uma oportunidade científica única. Antes de partir rumo ao espaço profundo, ele deve protagonizar um encontro marcante: uma aproximação sensível com Júpiter, capaz de interferir em sua rota.
A passagem desse cometa pelo plano planetário tem motivado uma série de simulações realizadas por pesquisadores do Laboratório de Pesquisas Físicas de Ahmedabad e do Instituto Indiano de Tecnologia de Gandhinagar. Esses modelos ajudam a reconstruir o passado remoto do objeto e projetar o caminho que ele seguirá nos próximos anos. Principais pontos que destacam a relevância científica do 3I/ATLAS:
- Velocidade elevada, típica de corpos vindos de além do Sistema Solar;
- Trajetória inclinada em relação ao plano galáctico, sugerindo origem antiga;
- Passado solitário, com poucas interações estelares recentes;
- Proximidade futura com Júpiter, que pode alterar sua rota final;
- Possível ejeção primordial, associada a sistemas formados nas primeiras eras da galáxia;
Uma história que começou bilhões de anos antes do Sol existir
Embora ainda existam incertezas, as simulações indicam que o 3I/ATLAS pode ser um remanescente ejetado de um sistema planetário muito antigo. Seu movimento vertical ao atravessar o disco galáctico, assim como sua velocidade incomum, reforçam a hipótese de que ele pertença à região de transição entre o disco fino e o disco espesso da Via Láctea, uma zona marcada por estrelas mais velhas e ambientes menos típicos.

Essa característica sugere que o cometa pode estar vagando sozinho há bilhões de anos, muito antes de o Sistema Solar existir. Ele teria chegado até nós vindo da direção da constelação de Sagitário, devendo partir em direção a Gêmeos após sua visita.
Júpiter pode “puxar” o cometa antes de sua despedida
Além do valor científico ligado à origem do 3I/ATLAS, sua aproximação de 2026 também chama atenção. Simulações mostram que Júpiter exercerá o maior impacto gravitacional sobre sua rota. O cometa passará próximo ao limite do raio de Hill do planeta, uma região que marca a área de influência gravitacional do gigante gasoso.
Embora a alteração prevista seja sutil, fatores não gravitacionais, como a liberação de jatos de gás e a pressão da radiação solar, podem amplificar mudanças orbitais. A intensidade desses fenômenos varia de cometa para cometa, o que torna as previsões sensíveis a pequenas variações.
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Uma rara chance de observação espacial
As análises também indicam que a sonda Juno, atualmente em órbita de Júpiter, poderá ter a melhor janela de observação do cometa entre 9 e 22 de março de 2026. Essa configuração abre a possibilidade de registrar dados inéditos sobre um objeto interestelar em trânsito, ampliando nossa compreensão sobre a formação de sistemas planetários extrassolares.

