Terra gira mais rápido e cientistas cogitam medida inédita na história

Terra gira mais rápido e cientistas cogitam medida inédita na história (Foto: Canva)

Você já ouviu falar em um “segundo intercalar negativo”? Pois saiba que essa pode ser uma realidade em breve. A rotação da Terra está acelerando e não estamos falando de sensações subjetivas ou teorias conspiratórias. Estamos falando de milissegundos que, embora imperceptíveis ao nosso cotidiano, têm impacto direto em sistemas complexos como GPS, redes elétricas, internet e até mesmo companhias aéreas. Com isso, cientistas ao redor do mundo avaliam uma possível mudança no tempo como nunca antes vista.

Quando um milissegundo faz toda a diferença

No último mês de julho, os dias 9 e 22 já registraram uma duração ligeiramente mais curta do que o padrão: cerca de 1,3 e 1,4 milissegundos a menos. Além disso, espera-se que o dia 5 de agosto seja ainda mais curto, com uma diferença de até 1,5 milissegundo.

Isso porque o tempo de rotação da Terra não é fixo. Ele depende de inúmeros fatores, como a posição da Lua, o campo gravitacional terrestre e até eventos climáticos. Vale destacar que, ao contrário do que muitos imaginam, a Terra vem historicamente desacelerando sua rotação. No entanto, desde 2020, essa tendência se inverteu momentaneamente.

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Por que isso importa tanto?

Cabe ressaltar que os relógios atômicos, usados para manter o Tempo Universal Coordenado (UTC), não acompanham essas variações naturais. Por isso, desde 1972, cronometristas adicionam ou retiram o chamado segundo intercalar para manter tudo sincronizado.

No entanto, até hoje, só foram usados segundos positivos. Um segundo intercalar negativo, que removeria um segundo do UTC, nunca foi aplicado. “A principal preocupação com o segundo intercalar negativo é que ele nunca aconteceu antes, e o software necessário para implementá-lo nunca foi testado”, afirmou Judah Levine, do NIST.

Remover tempo pode ser um problema

Sendo assim, a comunidade científica está dividida. Patrizia Tavella, do BIPM, alerta que segundos intercalares já causam falhas em sistemas computacionais, e que um negativo poderia ser ainda mais problemático. “Por causa do segundo intercalar, as companhias aéreas têm tido problemas para programar voos devido à diferença de fuso horário”, explicou.

Dessa maneira, muitos defendem que o segundo intercalar seja aposentado até 2035, decisão já aprovada em 2022 por um grupo internacional.

E no futuro? O que esperar?

Desse jeito, ainda que a chance de um segundo negativo seja considerada baixa no curto prazo, cerca de 30% na próxima década, segundo Levine, o debate continua. Isso porque fatores como as mudanças climáticas e o derretimento de calotas polares podem influenciar diretamente a rotação terrestre.

Portanto, mesmo que você nunca perceba a diferença de um milissegundo, o planeta está mudando, e com ele, nosso jeito de contar o tempo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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