Telescópio James Webb revela o primeiro mapa 3D de um exoplaneta ardente

Cientistas criam primeiro mapa 3D de exoplaneta ultraquente (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)
Cientistas criam primeiro mapa 3D de exoplaneta ultraquente (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)

A astronomia acaba de dar um passo histórico. Pela primeira vez, cientistas criaram um mapa tridimensional de um exoplaneta, mostrando com precisão como o calor e os elementos se distribuem em sua atmosfera. O planeta em questão, chamado WASP-18b, é um gigante gasoso ultraquente localizado a cerca de 400 anos-luz da Terra, e o estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Esse feito foi possível graças à aplicação do mapeamento espectroscópico de eclipses em 3D, uma técnica inédita que utiliza os dados do Telescópio Espacial James Webb (JWST). Com ela, os astrônomos conseguem visualizar detalhes antes inimagináveis da estrutura térmica de planetas que orbitam outras estrelas.

Um olhar além do brilho das estrelas

Detectar exoplanetas é uma tarefa desafiadora. Eles são ofuscados pelo brilho intenso de suas estrelas hospedeiras, emitindo menos de 1% da luz em comparação. Para contornar isso, os cientistas medem pequenas variações de luminosidade enquanto o planeta passa atrás da estrela, processo conhecido como eclipse secundário.

Com base nessas medições, foi possível transformar a luz capturada em mapas de temperatura e altitude, revelando as diferenças entre regiões do planeta. Entre as principais descobertas, destacam-se:

  • Um ponto quente central, onde a radiação estelar é mais intensa;
  • Um anel mais frio ao redor, nas bordas visíveis do planeta;
  • Baixos níveis de vapor d’água nas regiões mais quentes, indicando que o calor extremo decompõe as moléculas de água.

Esses dados confirmam previsões teóricas sobre o comportamento químico e térmico de exoplanetas submetidos a temperaturas próximas de 5.000 °F (cerca de 2.700 °C).

Um planeta bloqueado pela maré

WASP-18b revela zonas de calor extremo e decomposição de água (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)
WASP-18b revela zonas de calor extremo e decomposição de água (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)

Assim como a Lua mostra sempre a mesma face para a Terra, o WASP-18b está preso gravitacionalmente à sua estrela. Isso significa que um de seus lados é permanentemente diurno e escaldante, enquanto o outro permanece mergulhado na escuridão. O mapa 3D revelou que os ventos atmosféricos não são fortes o suficiente para redistribuir o calor, criando um contraste extremo entre as regiões do planeta.

Um novo capítulo na observação de exoplanetas

O mapeamento tridimensional representa uma nova fronteira para a astrofísica moderna. Ele permite entender a composição química, os padrões de vento e as camadas térmicas de mundos distantes com um nível de detalhe comparável ao que já observamos em Júpiter e Saturno.

Telescópio James Webb permite observar exoplanetas em detalhes inéditos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Telescópio James Webb permite observar exoplanetas em detalhes inéditos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Os pesquisadores acreditam que a mesma técnica poderá ser aplicada a centenas de outros “Júpiteres quentes”, ampliando o conhecimento sobre a diversidade e a dinâmica dos mais de 6.000 exoplanetas confirmados até hoje.

Mais do que um avanço técnico, o mapa 3D do WASP-18b inaugura uma nova forma de enxergar o cosmos em profundidade, mostrando que os mundos além do nosso sistema solar são mais complexos, e fascinantes, do que imaginávamos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.