Telescópio Euclid revela segredos ocultos sobre a formação das galáxias

Telescópio Euclid revela novas pistas sobre a origem das galáxias. (Imagem: ESA, CC BY-SA IGO 3.0)
Telescópio Euclid revela novas pistas sobre a origem das galáxias. (Imagem: ESA, CC BY-SA IGO 3.0)

Os primeiros resultados do telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA), estão transformando o modo como entendemos o universo. Após pouco mais de um ano em operação, o observatório já entregou dados que iluminam alguns dos maiores mistérios cósmicos, da origem das galáxias ao papel da energia escura na expansão do cosmos.

Em sua primeira liberação de dados, chamada Quick Data Release 1 (Q1), o Euclid catalogou mais de 1,2 milhão de grandes galáxias, oferecendo aos astrônomos uma nova visão sobre sua diversidade, formas e cores. Essa enorme base de informações está ajudando a responder por que o universo exibe tamanha variedade de galáxias e quais processos moldam sua evolução ao longo do tempo. Principais destaques do levantamento:

  • Mapeamento de 10 bilhões de anos-luz de profundidade cósmica;
  • Imagens de altíssima resolução cobrindo 63 graus quadrados do céu;
  • Identificação de núcleos galácticos duplos, possíveis embriões de buracos negros binários;
  • Detecção de galáxias com emissões extremas, ligadas a ventos estelares e quasares;
  • Confirmação da importância das galáxias anãs na formação das maiores estruturas.

Galáxias e seus segredos evolutivos

Durante mais de um século, os cientistas classificaram as galáxias segundo a Sequência de Hubble, que as divide em quatro tipos principais: elípticas, lenticulares, espirais e irregulares. Esse esquema ajuda a entender como elas passam de sistemas azuis e ativos, ricos em gás e poeira, para estruturas avermelhadas e inertes, onde o nascimento de novas estrelas praticamente cessou.

Primeiros dados do Euclid transformam visão sobre a evolução do cosmos. (Imagem: ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA)
Primeiros dados do Euclid transformam visão sobre a evolução do cosmos. (Imagem: ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA)

O Euclid, porém, está indo além dessa classificação. Com sua óptica de precisão e um campo de visão amplo, o telescópio permite observar como o ambiente e as interações cósmicas influenciam a forma e o destino de cada galáxia. 

A partir das imagens obtidas, astrônomos do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre identificaram centenas de galáxias de tipo inicial com núcleos secundários, estruturas que podem indicar o surgimento de futuros sistemas binários de buracos negros supermassivos.

Novos fenômenos e tipos galácticos

Além disso, a colaboração internacional do Euclid identificou 65 galáxias raras com linhas de emissão altamente ionizadas, sinal de núcleos galácticos ativos, ventos estelares intensos ou estrelas Wolf-Rayet, remanescentes de estrelas massivas em colapso. Esses fenômenos fornecem pistas sobre os mecanismos de feedback energético que moldam o crescimento e a aparência das galáxias.

O telescópio também revelou que as galáxias anãs são os tipos mais comuns do universo, embora muitas fossem invisíveis a observatórios anteriores. Evidências indicam que galáxias espirais maiores, como a Via Láctea, surgem da fusão de várias dessas pequenas estruturas, um processo ainda ativo em nossas vizinhanças cósmicas.

O futuro do Euclid e a nova era da cosmologia

Com apenas 0,5% dos dados previstos já processados, o Euclid demonstra um potencial extraordinário. Em sua missão de seis anos, deverá mapear todo o céu extragaláctico, fornecendo informações inéditas sobre formação estelar, colisões galácticas e crescimento de buracos negros.

Os resultados iniciais reforçam que o universo ainda guarda muitos mistérios, e que telescópios como o Euclid estão apenas começando a decifrá-los. A cada nova observação, o cosmos revela um pouco mais de sua complexidade, mostrando que a história das galáxias é também a história da própria evolução do universo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.