Telescópio da NASA encontra estrutura gigante e inesperada dentro de anã branca extrema

Raios X revelam estrutura gigante e oculta em anã branca extrema (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Raios X revelam estrutura gigante e oculta em anã branca extrema (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A poucos centenas de anos-luz da Terra, um sistema estelar turbulento acaba de revelar aspectos até então inalcançáveis para a astronomia moderna. No centro dessa configuração extrema está uma anã branca altamente magnetizada, drenando matéria de sua estrela companheira e criando uma região interna tão energética que, até recentemente, era impossível analisá-la com precisão.

Logo nos primeiros instantes do novo estudo, realizado por especialistas do MIT e publicado no Astrophysical Journal, fica evidente que esse ambiente funciona como um laboratório natural de física de alta energia. Para ajudar na compreensão, alguns pontos fundamentais se destacam:

  • Sistema observado: EX Hydrae, uma anã branca do tipo polar intermediário;
  • Ferramenta usada: telescópio IXPE, especializado em polarização de raios X;
  • Descoberta-chave: coluna de gás superaquecida com cerca de 3.200 km;
  • Mecanismo: matéria transferida da estrela companheira colide, aquece e emite raios X;
  • Surpresa: grau de polarização muito acima do previsto por modelos teóricos.

Uma física extrema esculpida por campos magnéticos

Nesse tipo de sistema, o material arrancado da estrela maior não cai de maneira suave. Pelo contrário, ele é capturado pelo campo magnético intenso da anã branca, que redireciona o fluxo para regiões específicas próximas aos polos. Isso gera uma mistura de disco de acreção e jatos canalizados, criando uma estrutura complexa onde partículas colidem a milhões de quilômetros por hora.

Polarização inédita expõe região interna invisível de EX Hydrae (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Polarização inédita expõe região interna invisível de EX Hydrae (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O resultado é uma coluna de gás incandescente, brilhante em raios X, situada a uma altura equivalente a quase metade do raio da própria anã branca. Embora esse mecanismo já fosse teorizado, a confirmação direta só foi possível graças à capacidade inédita do IXPE de analisar a polarização, uma característica da luz que revela o caminho percorrido pelas partículas e detalhes da geometria da região emissora.

Reflexos que revelam a verdadeira arquitetura do sistema

As medições mostraram que parte dos raios X emitidos pela coluna não chega diretamente ao telescópio. Primeiro, essa radiação bate na superfície da anã branca e é refletida, produzindo uma direção de polarização inesperada. Esse comportamento confirma que a superfície da estrela atua como um espelho energético, algo antes suspeitado, mas nunca observado de forma conclusiva.

Além disso, o grau de polarização encontrado, cerca de 8%, surpreendeu ao indicar um alinhamento muito maior do que a maioria dos modelos previam. Isso sugere que a região interna é mais ordenada do que se imaginava, permitindo entender melhor o tráfego caótico de matéria que se acumula antes de despencar sobre a anã branca.

Uma janela para o futuro das supernovas e do cosmos

Ao desvendar o comportamento exato dessa coluna de gás, o estudo abre possibilidade para explorar dezenas de outros sistemas semelhantes. E isso tem implicações profundas: quando anãs brancas acumulam matéria demais, podem atingir um limite crítico e explodir em uma supernova do tipo Ia, eventos usados para medir a expansão do Universo.

Assim, cada detalhe obtido em EX Hydrae ajuda a reconstruir o caminho que leva a alguns dos fenômenos mais luminosos e importantes da cosmologia. O avanço demonstra que a polarimetria de raios X não é apenas uma nova técnica, mas uma porta para compreender estruturas estelares antes invisíveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.