Sapos mudam de cor em minutos e revelam truque para sucesso reprodutivo

Sapos machos ficam amarelos neon para evitar confusões no acasalamento (Imagem: Stückler, S. et al. / doi.org/10.1643/h2024105 / CCBY)
Sapos machos ficam amarelos neon para evitar confusões no acasalamento (Imagem: Stückler, S. et al. / doi.org/10.1643/h2024105 / CCBY)

Durante a chegada das chuvas de monção na Índia e no sudeste asiático, uma espécie de sapo comum asiático (Duttaphrynus melanostictus) passa por uma transformação impressionante. Os machos mudam de marrom para amarelo neon em cerca de 10 minutos, enquanto as fêmeas permanecem marrons. Esta mudança não é apenas estética: trata-se de um mecanismo evolutivo para diferenciar machos e fêmeas durante um período de acasalamento extremamente curto.

Para entender esse fenômeno, cientistas do Zoológico de Schönbrunn, em Viena, realizaram experimentos usando modelos 3D de sapos em cores variadas. Os resultados indicam que:

  • Sapos machos ignoram modelos amarelos, reconhecendo-os como outros machos;
  • Modelos marrons atraem machos, simulando a presença de fêmeas;
  • Variações de tamanho, peso ou saturação de cor não influenciam a escolha.

Essa pesquisa confirma que a coloração amarela atua como um semáforo, ajudando a reduzir acasalamentos equivocados entre machos, especialmente em uma reprodução explosiva, quando o tempo para encontrar parceiras é extremamente limitado.

Como os sapos mudam de cor?

Transformação amarela ajuda sapos a identificar parceiros rapidamente (Imagem: Stückler, S. et al. / doi.org/10.1643/h2024105 / CCBY)
Transformação amarela ajuda sapos a identificar parceiros rapidamente (Imagem: Stückler, S. et al. / doi.org/10.1643/h2024105 / CCBY)

A mudança de cor dos sapos é regulada por hormônios, não por controle nervoso direto, como ocorre em camaleões e polvos. Sob a pele, células especializadas chamadas cromatóforos contêm pigmentos escuros, amarelos e vermelhos, além de placas refletoras que atuam como pequenos espelhos. Durante o evento hormonal:

  • Os pigmentos se reorganizam;
  • As placas refletoras se inclinam, alterando a luz refletida;
  • A tonalidade amarela dura até dois dias antes de retornar ao marrom.

Este processo demonstra como uma adaptação hormonal e fisiológica pode resolver problemas de identificação em contextos de alta competição.

Acasalamento explosivo e riscos naturais

O período reprodutivo desses sapos é extremamente intenso, durando apenas um ou dois dias. Isso cria condições de alta densidade populacional e competição extrema, incluindo:

  • Machos tentando acasalar com outros machos ou objetos;
  • Formação de “bolas de acasalamento”, às vezes levando ao afogamento das fêmeas;
  • Corrida contra o tempo para que os girinos se desenvolvam antes do fim da estação das monções.

Mudanças climáticas podem intensificar esses desafios, alterando o momento e a duração das monções e ameaçando a sobrevivência de espécies com reprodução explosiva.

Implicações evolutivas e científicas

A descoberta não apenas esclarece o papel da cor em sapos, mas também redefine como cientistas interpretam sinalizações visuais em animais. Espécies menos estudadas, como anfíbios, podem revelar novos insights sobre evolução, competição e comunicação visual, com implicações que vão além de sapos, incluindo pássaros, borboletas e outros grupos animais.

Estudos publicados em revistas especializadas mostram que a adaptação da cor amarela é uma solução evolutiva engenhosa, equilibrando competição intensa, reprodução rápida e reconhecimento correto de parceiros em um ambiente altamente dinâmico.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.