Pela primeira vez, descargas elétricas foram registradas em Marte, mostrando que tempestades de poeira no planeta vermelho podem gerar faíscas, de forma semelhante ao que ocorre em erupções vulcânicas e tempestades na Terra. Esses fenômenos, conhecidos como triboeletricidade, acontecem quando partículas se carregam eletricamente por atrito e liberam energia na forma de faíscas.
O estudo publicado na Nature revelou que o rover Perseverance, da NASA, detectou esses sinais de maneira inesperada, usando seu microfone da SuperCam, que captou tanto os transientes elétricos quanto os sons correspondentes, similares ao efeito de ver um clarão de raio e depois ouvir o trovão. Principais descobertas do estudo:
- Descargas elétricas próximas ao módulo de pouso, a poucos metros de distância;
- Eventos mais frequentes durante redemoinhos de poeira e tempestades de grande intensidade;
- Sistema do microfone funcionou como detector duplo, registrando sinais elétricos e acústicos.
Como Marte cria faíscas com poeira?
Em Marte, a pressão atmosférica extremamente baixa (1 a 10% da pressão terrestre) facilita descargas elétricas com níveis menores de eletrificação, ao contrário da Terra, onde a pressão impede descargas significativas em tempestades de poeira.
O fenômeno é análogo ao acúmulo de carga em nuvens de tempestade ou plumas vulcânicas, mas ocorre em escala menor e de forma menos visível. O movimento constante das partículas de poeira gera eletricidade suficiente para criar faíscas, especialmente em atmosferas de baixa densidade como a marciana.
Implicações para futuras explorações marcianas
A descoberta tem importantes repercussões científicas e práticas, pois indica que a eletricidade atmosférica marciana pode favorecer a formação de moléculas complexas potencialmente relacionadas à origem da vida, além de exigir maior atenção no planejamento de missões, já que as faíscas elevam o risco de falhas em sistemas eletrônicos durante futuras viagens tripuladas.
Além disso, o fenômeno reforça teorias de que redemoinhos e tempestades de poeira realmente são capazes de gerar eletricidade no planeta vermelho, ampliando o entendimento sobre sua dinâmica atmosférica.
Com a comprovação de descargas elétricas em Marte, futuras missões poderão considerar sistemas de proteção contra faíscas em veículos e habitats. Além disso, os dados abrem caminho para novas pesquisas sobre processos atmosféricos e evolução química em Marte, fortalecendo nosso entendimento do planeta vermelho e da dinâmica de tempestades em atmosferas de baixa pressão.
Mesmo em ambientes extremos, Marte continua a nos surpreender com fenômenos familiares, mas em escalas inesperadas, como faíscas voando em tempestades de poeira.
