A vida selvagem africana, famosa por sua força e diversidade, enfrenta uma transformação alarmante. Um estudo da Universidade de Oxford, publicado na revista Nature, revela que o continente perdeu mais de um terço do seu poder ecológico natural desde o período pré-colonial. Em outras palavras, os ecossistemas funcionam hoje com menos de dois terços da energia que antes sustentava a biodiversidade, afetando processos vitais como dispersão de sementes, ciclagem de nutrientes e equilíbrio das cadeias alimentares.
Essa redução não significa apenas menos animais; representa a perda da força funcional da natureza, a base que mantém florestas, savanas e até recursos hídricos em equilíbrio. Isso ocorre principalmente pelo declínio de grandes mamíferos icônicos, como elefantes, rinocerontes e leões, pilares ecológicos que antes moldavam paisagens inteiras.
Principais consequências identificadas pelo estudo:
- Queda acentuada no fluxo de energia entre espécies;
- Domínio crescente de animais pequenos em funções antes lideradas por gigantes;
- Enfraquecimento da regeneração vegetal e da ciclagem de nutrientes;
- Transformação estrutural de ecossistemas como savanas e florestas tropicais.
A energia invisível que mantém ecossistemas vivos

A pesquisa analisou mais de 3.000 espécies em centenas de milhares de paisagens africanas, aplicando uma abordagem de energetica ecológica, um método inovador que observa como a energia flui entre plantas, herbívoros, carnívoros e detritívoros. Esse olhar energético mostra não apenas quantas espécies desaparecem, mas o que elas deixam de fazer quando desaparecem.
Enquanto roedores, aves pequenas e antílopes jovens se tornam mais comuns, eles não substituem o impacto ecológico da megafauna. Elefantes, por exemplo, abrem clareiras, dispersam sementes grandes e enriquecem os solos, funções impossíveis de serem replicadas por espécies menores ou pelo gado doméstico.
O que precisa ser restaurado
Com a COP30 se aproximando, o estudo surge em um momento crucial para políticas ambientais. Ele fornece uma métrica que vai além da contagem de espécies: mede a eficiência ecológica real. Governos e iniciativas privadas poderão usar essa ferramenta para acompanhar a restauração com foco em funções essenciais do ecossistema, e não apenas na reintrodução de animais.

Essa abordagem já ajuda a entender mudanças em regiões como o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, onde a substituição de grandes herbívoros por animais menores altera o crescimento da vegetação e o ciclo da água.
Além disso, as descobertas oferecem impacto global: ao quantificar energia ecológica, cientistas podem criar métricas mais precisas para metas do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal e avaliar como a perda de animais afeta o clima, a reciclagem de carbono e a estabilidade da biosfera.
O alerta vai além da África
A conclusão é clara: a queda da megafauna africana não é apenas uma crise regional. É um aviso sobre como o planeta responde quando espécies que carregam funções ecológicas fundamentais desaparecem. Restaurar a energia da natureza não é apenas conservar, é garantir que os ecossistemas continuem funcionando para sustentar a vida no planeta.

