No coração dos oceanos Pacífico e Índico existe uma região tão rica em vida marinha que foi apelidada de “Amazônia do mar“. Trata-se do Triângulo de Coral, um território submarino que abriga a maior diversidade de corais e espécies de recifes do planeta. Estendendo-se por cerca de 6 milhões de km², entre Filipinas, Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Ilhas Salomão, essa área intriga cientistas há décadas por sua impressionante resistência a eventos extremos ligados ao aquecimento global.
Apesar das ameaças globais aos recifes, como branqueamento, acidificação e pesca predatória, o Triângulo de Coral apresenta características únicas que podem oferecer pistas sobre resiliência ecológica.
Por que o Triângulo de Coral é tão especial?
- Lar de 76% das espécies de corais do mundo;
- Refúgio de seis das sete espécies de tartarugas marinhas;
- Habitat de golfinhos, baleias, dugongos e milhares de peixes;
- Estabilidade ambiental mantida por milhões de anos;
- Geologia estratégica entre dois oceanos.
Águas turvas, um escudo inesperado

Ao contrário de recifes em águas cristalinas, o Triângulo de Coral é marcado por ambientes mais turvos e sedimentados. Essa condição, que poderia ser vista como prejudicial, atua como um filtro natural de luz, reduzindo o impacto térmico que provoca o branqueamento dos corais. Assim, espécies daqui convivem com estresse constante, tornando-se potencialmente mais tolerantes às variações climáticas.
Dessa maneira, a turbidez, correntes diversificadas e habitats variados criam um verdadeiro laboratório natural de resistência marinha.
Um reservatório de biodiversidade antiga
Diferente de regiões que sofreram oscilações drásticas ao longo das eras glaciais, o Triângulo de Coral permaneceu relativamente estável por milhões de anos. Isso favoreceu a acumulação contínua de espécies, sem interrupções evolutivas.
Sua localização entre placas tectônicas e sua formação geológica tipo plataforma contribuíram para a criação de ambientes complexos, como recifes profundos, manguezais e pradarias marinhas.
Proteção é urgente, apesar da resiliência
Mesmo com vantagens naturais, os recifes do Triângulo de Coral não são invulneráveis. Práticas de pesca destrutiva, poluição costeira e o avanço da acidificação oceânica ameaçam esse ecossistema vital para a alimentação e proteção costeira de milhões de pessoas.
Preservá-lo significa proteger uma reserva genética essencial para o futuro dos oceanos, talvez o último refúgio natural contra o colapso dos recifes globais.