Imagine um viajante solitário atravessando o vazio interestelar por bilhões de anos até chegar ao nosso Sistema Solar. Esse é o caso do 3I/ATLAS, um cometa interestelar cuja visita raríssima está mobilizando astrônomos em todo o mundo. Embora o nome pareça técnico e distante, ele revela informações essenciais sobre sua origem e trajetória.
Afinal, estamos diante de apenas o terceiro objeto interestelar já observado de forma confirmada. Antes dele, apenas ’Oumuamua e 2I/Borisov haviam passado por aqui e cada um deixou perguntas científicas profundas. Agora, o 3I/ATLAS adiciona um novo capítulo a essa curta, porém revolucionária, lista.
Pouco após ser detectado, telescópios de solo e do espaço voltaram seus instrumentos para ele. Não à toa: análises iniciais indicam que o objeto pode ter surgido antes do próprio Sistema Solar, exibindo uma composição tão peculiar que chegou a inspirar teorias improváveis, e rapidamente descartadas, sobre origem tecnológica.
Para quem quer uma visão rápida do fenômeno:
- Visitante interestelar: terceiro já identificado;
- Extrema antiguidade: cerca de 7 bilhões de anos;
- Sinais incomuns: presença de níquel atômico;
- Aparência marcante: coma verde gigante e formação de anticauda;
- Momento crítico: já completou a aproximação máxima do Sol.
O significado real por trás do nome 3I/ATLAS
Nomes astronômicos seguem convenções internacionais rigorosas, e no caso do 3I/ATLAS, cada caractere possui um propósito claro. O prefixo numérico (3) destaca que é o terceiro objeto interestelar reconhecido oficialmente. A letra associada (I) indica sua natureza, ou seja, um corpo vindo de fora do sistema solar. Já a última parte (ATLAS) homenageia o sistema automatizado de telescópios que registrou sua passagem nas primeiras observações confirmadas.

Antes de receber essa nomenclatura definitiva, o objeto circulou pelos bancos de dados com diferentes rótulos temporários, como A11pl3Z, e posteriormente como C/2025 N1, conforme o protocolo para novos cometas não periódicos. Esse código já dizia muito: ele foi encontrado na primeira metade de julho e inaugurou as descobertas catalogadas no período. Só depois, quando sua origem extrassolar foi confirmada, passou a carregar a designação atual.
Janela científica inédita
Missões já ativas no espaço encontraram uma oportunidade única. Orbitadores dedicados a Júpiter e suas luas, como Juno, Europa Clipper e JUICE, têm aproveitado a passagem do cometa para realizar medições complementares, reunindo dados que dificilmente seriam obtidos novamente tão cedo.
A missão SPHEREx, projetada para mapear o cosmos no infravermelho, identificou dióxido de carbono na vasta nuvem que envolve o núcleo, uma coma verde que se estende por cerca de 350 mil quilômetros. Esse brilho intenso e a presença de elementos atípicos reforçam a hipótese de que estamos observando material preservado desde a infância de outros sistemas estelares.
Uma despedida anunciada
A passagem do 3I/ATLAS pela vizinhança solar é curta na escala cósmica. Depois de cruzar o periélio e aparecer novamente após atravessar o brilho solar, ele já segue rumo ao espaço profundo. Não representa risco para a Terra, mas deixa um legado científico valioso e um lembrete poderoso da vastidão e da diversidade do Universo.

