Plástico nos oceanos pode durar séculos e afetar gerações futuras, diz estudo

Plásticos nos oceanos podem permanecer por mais de 100 anos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Plásticos nos oceanos podem permanecer por mais de 100 anos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A poluição plástica marinha continua sendo um desafio ambiental crítico, com impactos que ultrapassam décadas. Um estudo recente do Departamento de Geografia e Ciências Ambientais da Universidade Queen Mary de Londres, publicado na Philosophical Transactions of the Royal Society A, revelou que resíduos plásticos flutuantes podem permanecer na superfície dos oceanos por mais de 100 anos, mesmo se toda a poluição fosse interrompida imediatamente.

Os pesquisadores combinaram geoquímica marinha, dinâmica de fluidos e modelagem ambiental para simular como o plástico se move da superfície para o fundo do mar. O estudo oferece explicações importantes sobre o chamado problema do “plástico ausente”, ou seja, a discrepância entre o plástico que entra nos oceanos e a quantidade visível na superfície.

Principais descobertas do estudo:

  • Plásticos grandes e flutuantes degradam-se lentamente, fragmentando-se em microplásticos ao longo de décadas;
  • Pequenos fragmentos podem ser transportados pela neve marinha, uma mistura pegajosa de partículas orgânicas, até o fundo do mar;
  • Mesmo após 100 anos, aproximadamente 10% do plástico original ainda permanece flutuando na superfície;
  • A bomba biológica natural, que transporta carbono e partículas no oceano, pode ser sobrecarregada por microplásticos, interferindo nos ciclos biogeoquímicos.

O ciclo invisível dos microplásticos

Mesmo parando a poluição, oceanos ainda terão plástico por décadas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Mesmo parando a poluição, oceanos ainda terão plástico por décadas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Ao contrário do que muitos imaginam, o plástico não afunda imediatamente. O processo de degradação é lento e gera partículas cada vez menores, que continuam liberando microplásticos na água.

Com o tempo, esses fragmentos interagem com os sedimentos suspensos, facilitando seu transporte para o fundo oceânico, mas mantendo a poluição visível por décadas. Esse fenômeno explica por que a limpeza superficial do oceano é insuficiente para eliminar o problema por completo.

Consequências para o futuro e ação necessária

Microplásticos flutuam séculos e ameaçam a vida marinha (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Microplásticos flutuam séculos e ameaçam a vida marinha (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A pesquisa evidencia que a poluição por microplásticos é intergeracional. Mesmo se a humanidade interromper a produção de plástico hoje:

  • Nossos oceanos ainda conterão resíduos visíveis por mais de um século;
  • Microplásticos podem afetar o equilíbrio ecológico e os ciclos naturais de nutrientes;
  • A solução exige estratégias de longo prazo, incluindo redução drástica do plástico, inovação em biodegradáveis e políticas ambientais globais.

O estudo completo, que integra pesquisas publicadas na Nature Water e na Limnology & Oceanography, fornece um panorama detalhado do destino dos resíduos plásticos e reforça a urgência de ações sustentáveis imediatas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.