Um avanço científico liderado por pesquisadores brasileiros trouxe uma nova perspectiva sobre a origem e progressão da doença de Alzheimer. O estudo, publicado na revista Nature Neuroscience, indica que a neuroinflamação, uma inflamação silenciosa dentro do cérebro, pode ser o fator decisivo que transforma o acúmulo de proteínas em declínio cognitivo.
Até agora, acreditava-se que o Alzheimer se desenvolvia principalmente pelo depósito das proteínas beta-amiloide e tau. No entanto, a nova pesquisa mostra que essas substâncias só causam danos graves quando o cérebro também entra em um estado de inflamação crônica.
Principais descobertas do estudo:
- A inflamação cerebral atua como gatilho para a progressão do Alzheimer;
- Duas células específicas (microglia e astrócitos) “conversam” entre si e amplificam o dano;
- Sem essa ativação conjunta, as proteínas amiloide e tau não geram sintomas graves;
- Os efeitos cognitivos aparecem apenas quando há inflamação associada ao acúmulo proteico;
- O mecanismo oferece um novo alvo terapêutico para frear a doença.
Quando o cérebro entra em modo de alerta

A pesquisa, conduzida pelo grupo do neurocientista Eduardo Zimmer, da UFRGS, analisou imagens cerebrais e biomarcadores de mais de 300 voluntários em diferentes estágios da doença. Os resultados mostraram que a microglia, célula responsável pela defesa imunológica do cérebro, passa a liberar substâncias inflamatórias que ativam os astrócitos, células de suporte neural.
Essa “dupla inflamatória” cria um ciclo constante de alerta que acelera a degeneração dos neurônios. É nesse momento que o Alzheimer deixa de ser apenas uma condição molecular e se transforma em um processo inflamatório sistêmico no cérebro.
Um novo caminho para tratar e prevenir a demência
Os achados sugerem que controlar a inflamação cerebral pode ser tão importante quanto reduzir as proteínas acumuladas. A maioria dos medicamentos experimentais até hoje foca apenas na remoção da amiloide e da tau, mas com resultados limitados. Agora, os cientistas propõem que modular a comunicação entre microglia e astrócitos pode retardar o avanço da doença e preservar a função cognitiva.

Além disso, o estudo ajuda a explicar por que algumas pessoas acumulam placas amiloides sem desenvolver sintomas: a inflamação é o fator que determina se o dano vai ocorrer ou não.
Esse entendimento abre espaço para novas terapias que combinem medicamentos anti-inflamatórios neuronais e agentes anti-amiloide, capazes de agir precocemente e impedir o início da neurodegeneração.
A força da ciência brasileira na neurociência global
O trabalho contou com colaborações internacionais de instituições do Canadá, Suécia e Estados Unidos, mas teve liderança científica do Brasil, consolidando o país como referência em pesquisa neurológica avançada. A descoberta reforça o papel da ciência nacional em temas de impacto global, como o combate às demências e o envelhecimento saudável.
Mais do que revelar um novo mecanismo, o estudo mostra que entender a inflamação cerebral pode ser a chave para transformar o tratamento do Alzheimer e oferecer esperança a milhões de pessoas em todo o mundo.

