Em meio às águas dos oceanos e lagos vive um organismo microscópico que pode conter respostas para uma das maiores questões da biologia: como os primeiros animais evoluíram. Esse ser, chamado coanoflagelado, é unicelular, mas compartilha características genéticas e estruturais com todos os animais conhecidos, incluindo nós.
Embora diminutos, os coanoflagelados são considerados os parentes vivos mais próximos dos animais e, portanto, uma chave para entender a transição da vida unicelular para organismos multicelulares complexos.
- Vivem isolados ou em pequenas colônias aquáticas;
- Podem mudar de forma conforme o ambiente;
- Alimentam-se de bactérias filtradas da água;
- Compartilham genes essenciais com animais, como os da via Hippo.
A transição que mudou a história da vida
A vida animal surgiu quando as células aprenderam a cooperar. Essa cooperação permitiu o surgimento de corpos compostos por trilhões de células especializadas, como as células musculares, nervosas e reprodutivas. Essa inovação culminou no processo de embriogênese, em que um único óvulo fertilizado se transforma em um organismo completo.
Entender como essa cooperação celular começou é um dos maiores desafios da biologia evolutiva. É aí que entram os coanoflagelados: eles não formam embriões, mas conseguem criar colônias multicelulares transitórias, chamadas rosetas. Essas estruturas lembram os estágios iniciais de um embrião animal e demonstram uma capacidade rudimentar de organização celular.
A pista genética: os genes da “via Hippo”

O novo estudo publicado por pesquisadores internacionais revelou que os coanoflagelados possuem genes semelhantes aos dos animais, especialmente os da chamada via Hippo, um conjunto de genes que regula o crescimento celular e o tamanho dos órgãos.
Em experimentos recentes, ao desativar o gene Warts, as colônias desses microrganismos cresceram descontroladamente, formando aglomerados com o dobro do tamanho normal. Esse comportamento é semelhante ao que ocorre em animais com mutações nos mesmos genes, o que, em humanos, pode levar à formação de tumores cancerígenos.
Essa descoberta sugere que os mecanismos genéticos que controlam o crescimento e a organização celular já existiam antes do surgimento dos animais, sendo posteriormente adaptados pela evolução para formar corpos complexos.
Um vislumbre do passado evolutivo
Os coanoflagelados não possuem tecidos, órgãos ou sistema nervoso, mas exibem os primeiros passos da complexidade biológica. Suas colônias, capazes de se dividir e reorganizar, representam um modelo vivo do que pode ter ocorrido há cerca de 600 milhões de anos, quando as primeiras formas animais emergiram dos oceanos primitivos.
A evolução, portanto, não começou do zero, mas aproveitou estruturas e genes já existentes em organismos simples. A partir dessas bases, a seleção natural refinou os processos celulares até criar a extraordinária diversidade animal que conhecemos hoje, das águas-vivas aos mamíferos, passando por moscas, estrelas-do-mar e o próprio ser humano.


 
							 
							 
							