Um único exame de imagem pode revelar o ritmo do envelhecimento do seu cérebro. Parece ficção científica, mas é exatamente isso que propõe um estudo recente publicado na revista Nature Aging. Com a ajuda da inteligência artificial, cientistas conseguiram decifrar sinais sutis de atrofia cerebral antes mesmo dos primeiros sintomas aparecerem. Além disso, o modelo criado pode prever o risco de declínio cognitivo em pessoas aparentemente saudáveis. Mas como isso é possível? Entenda agora no Fala Ciência!.
IA decifra o relógio biológico do cérebro
- Estudo analisou 50 mil ressonâncias magnéticas para identificar padrões estruturais do cérebro;
- Criado o modelo DunedinPACNI, que estima o envelhecimento cerebral com base em IA;
- Fatores como espessura do córtex e volume da massa cinzenta indicam saúde cerebral;
- O método detecta sinais de declínio cognitivo mesmo em pessoas sem sintomas;
- Pesquisa é baseada no estudo Dunedin, que acompanha voluntários há mais de 50 anos.
A pesquisa foi conduzida por neurocientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, em parceria com o estudo Dunedin, que acompanha mil pessoas na Nova Zelândia desde a década de 1970. Com a análise de um grande volume de imagens cerebrais, os pesquisadores treinaram uma inteligência artificial capaz de identificar sinais precoces de envelhecimento cerebral, com destaque para a redução do volume da substância cinzenta, espessamento cortical e atrofia do hipocampo.

Isso porque essas estruturas estão diretamente ligadas a funções como memória, coordenação e velocidade de raciocínio. Com isso, o modelo pode estimar o envelhecimento cerebral e apontar riscos futuros, mesmo em pessoas sem qualquer queixa atual.
Por isso, o neurologista Marco Túlio Pedatella, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca:
“Ao observar dados como redução do volume da substância cinzenta e branca e atrofia hipocampal, o modelo criado pelos pesquisadores consegue estimar o envelhecimento cerebral com mudanças na velocidade de processamento, lentificação motora, queda de memória e coordenação prejudicada.”
Limites e desigualdades: um alerta importante
Vale destacar que o modelo foi desenvolvido apenas com dados de cérebros neozelandeses. Sendo assim, como explica o neurologista Eduardo Zimmer, da UFRGS, é preciso ter cautela:
“Precisamos validar essas métricas com exames feitos no Brasil antes de adotar qualquer padrão de referência.”
Além disso, o neurologista Victor Calil, da Academia Brasileira de Neurologia, ressalta a limitação do acesso à ressonância magnética no Brasil, mesmo na rede privada.
“De forma geral, fazer uma ressonância em pessoas assintomáticas tem pouco valor e pode gerar mais ansiedade do que benefícios.”
Cabe ressaltar que o envelhecimento cerebral é um processo natural, esperado com o passar dos anos. Dessa maneira, o uso da IA deve ser reservado a casos clínicos com queixas cognitivas, para evitar diagnósticos precipitados ou alarmismo.
Desse jeito, o SUS ainda enfrenta barreiras
No contexto da saúde pública, o rastreio do envelhecimento cerebral no SUS ainda depende de ferramentas simples, como testes neuropsicológicos aplicados por profissionais da atenção primária. Esses testes avaliam funções motoras, memória e raciocínio, permitindo identificar sinais de alerta para encaminhamento ao neurologista.
Por que isso é um desafio? Porque incluir exames de imagem como a ressonância exigiria não só infraestrutura diagnóstica, mas também capacitação das equipes de saúde e investimentos contínuos, o que ainda não está sendo feito, segundo especialistas.
A prevenção ainda é a melhor estratégia
Portanto, mesmo diante de tecnologias promissoras, a melhor forma de preservar a saúde cerebral é investir em hábitos saudáveis. Isso inclui:
- Alimentação equilibrada;
- Exercício físico regular;
- Sono de qualidade;
- Estímulo cognitivo contínuo;
- Controle de doenças crônicas cardiovasculares.
Dessa forma, é possível reduzir o risco de declínio cognitivo a longo prazo. A IA pode ser uma aliada no futuro da neurologia, mas o cuidado diário com o corpo e a mente segue sendo insubstituível.