Nova estratégia do SETI propõe limites mais claros na busca alienígena

Estratégias híbridas do SETI reduzem a imensidão do cosmos a pontos-chave, tornando a procura por civilizações extraterrestres mais direcionada. (Crédito da imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Estratégias híbridas do SETI reduzem a imensidão do cosmos a pontos-chave, tornando a procura por civilizações extraterrestres mais direcionada. (Crédito da imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A busca por inteligência extraterrestre (SETI) enfrenta um desafio central: o excesso de possibilidades. São trilhões de estrelas, inúmeras frequências e instantes de tempo que poderiam conter um sinal. 

Assim, mesmo procurando no lugar certo, é possível estar sintonizado na faixa errada ou no momento inadequado. Para contornar essa barreira, pesquisadores vêm desenvolvendo formas de restringir o campo de análise, e uma proposta recente publicada por Naoki Seto, da Universidade de Kyoto, sugere uma estratégia inovadora que combina duas referências distintas.

Principais obstáculos dessa busca:

  • Local de observação: onde direcionar os telescópios;
  • Frequência escolhida: qual faixa eletromagnética observar;
  • Momento da transmissão: quando o sinal pode ser emitido;
  • Energia de emissão: civilizações dificilmente transmitiriam em todas as direções por longos períodos;
  • Falta de coordenação: emissor e receptor podem adotar critérios diferentes.

O conceito de pontos de referência

Na teoria dos jogos, esse ponto comum é chamado de ponto de Schelling, uma escolha “natural” a que diferentes jogadores tenderiam diante da ausência de coordenação. 

Já foi sugerido, por exemplo, usar eventos astronômicos marcantes, como supernovas ou fusões de estrelas de nêutrons, para servir como âncoras. Entretanto, esses fenômenos apresentam falhas, como distâncias pouco precisas ou raridade extrema.

A proposta híbrida: espaço e tempo em conjunto

Via Láctea, galáxia em que vivemos (Crédito da imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Via Láctea, galáxia em que vivemos (Crédito da imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A estratégia atual sugere o uso combinado de duas âncoras:

  • Referência espacial: o centro da Via Láctea (Sgr A*);
  • Referência temporal: um evento de brilho excepcional, como uma explosão de raios gama.

Nesse modelo, forma-se um “anel de busca” ao redor do evento brilhante, enquanto a transmissão ocorreria no lado oposto, equilibrando posição e tempo. A geometria entre o fenômeno e o centro galáctico permite calcular quando e onde esperar o sinal, reduzindo drasticamente a vastidão do monitoramento.

O papel do BOAT

Um candidato ideal para essa estratégia é a explosão GRB 221009A, apelidada de BOAT (a mais brilhante já registrada). Com luminosidade cerca de 40 vezes superior a qualquer evento anterior e posicionamento privilegiado próximo ao plano da galáxia, ele oferece um marco quase perfeito. 

Estima-se que uma oportunidade assim só ocorra a cada 100 mil anos, o que a torna especialmente valiosa. Ainda assim, a questão da frequência permanece aberta. 

Muitos defendem que a chamada linha do hidrogênio (1.420 MHz) seria o ponto natural, mas não há consenso. Mesmo com essa limitação, a abordagem híbrida pode reduzir a área de busca em até 100 vezes, tornando a investigação mais eficiente.

Se civilizações em outros sistemas tiverem a mesma lógica, talvez estejamos diante de uma rara chance de sincronização cósmica.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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