NASA perde contato com sonda em Marte e cometa 3I/ATLAS vira alvo de teorias

MAVEN enfrenta falha temporária sem interferência do 3I/ATLAS (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
MAVEN enfrenta falha temporária sem interferência do 3I/ATLAS (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

A perda temporária de contato entre a NASA e uma de suas sondas em Marte foi suficiente para alimentar especulações nas redes sociais. Em meio a esse cenário, o cometa interestelar 3I/ATLAS passou a ser citado como possível responsável pela anomalia. No entanto, quando os fatos são analisados com rigor científico, a explicação se mostra muito menos dramática e muito mais plausível.

A espaçonave MAVEN, em operação há mais de uma década na órbita marciana, deixou de responder aos comandos enviados da Terra após atravessar um período conhecido como ocultação orbital. Esse fenômeno ocorre quando o planeta se posiciona exatamente entre a sonda e nosso planeta, bloqueando temporariamente as comunicações por rádio. Embora o contato costume ser retomado logo após esse alinhamento, nem sempre isso acontece de forma imediata.

Antes da interrupção, os dados enviados indicavam que a sonda funcionava normalmente, sem apresentar falhas de energia ou problemas de orientação. Ainda assim, a coincidência temporal com as observações recentes do 3I/ATLAS acabou gerando desinformação

É importante destacar que falhas de comunicação em missões espaciais são relativamente comuns, e períodos de ocultação planetária podem provocar atrasos inesperados no restabelecimento do sinal. Além disso, cometas interestelares não emitem sinais artificiais nem possuem capacidade de interferir em sistemas eletrônicos, e a simples coincidência temporal entre eventos não implica qualquer relação causal.

O que realmente estava sendo estudado no 3I/ATLAS?

Falha da MAVEN é técnica e não causada por fenômeno externo (Imagem: Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA)
Falha da MAVEN é técnica e não causada por fenômeno externo (Imagem: Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA)

Dias antes da falha, a MAVEN participou de uma campanha científica dedicada ao estudo do 3I/ATLAS, apenas o terceiro objeto interestelar já identificado atravessando o Sistema Solar. Usando instrumentos sensíveis ao ultravioleta, a sonda analisou gases liberados pelo cometa, como hidrogênio e suas variações isotópicas, dados valiosos para entender a origem química desses visitantes cósmicos.

Essas observações são rotineiras em missões científicas e seguem protocolos rigorosos de segurança. Além disso, o cometa nunca chegou perto o suficiente de Marte ou da sonda para causar qualquer tipo de interação física ou eletromagnética.

Desvendando o mistério do 3I/ATLAS e da sonda MAVEN

Em ambientes digitais, eventos complexos e pouco compreendidos tendem a ser explicados de forma simplificada ou sensacionalista. A ideia de que um objeto interestelar poderia “desligar” uma sonda desperta curiosidade, mas não encontra respaldo na astronomia observacional nem na engenharia espacial.

Por fim, a MAVEN não foi declarada perdida. Equipes seguem tentando restabelecer a comunicação, algo que já ocorreu em outras missões após dias ou semanas. Assim, até o momento, o que existe é uma anomalia técnica sob investigação, e não uma interferência externa.

Em ciência, evidências importam mais do que coincidências. E, neste caso, elas indicam que o 3I/ATLAS segue sendo apenas um visitante raro e inofensivo, enquanto a investigação continua focada nos sistemas da própria missão.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.