A revelação de tatuagens faciais em uma múmia feminina com mais de 800 anos está intrigando especialistas ao redor do mundo. Guardada por décadas na Universidade de Turim, na Itália, a relíquia pré-colombiana apresenta marcas extremamente raras no rosto e uma tinta misteriosa usada para criá-las. Além disso, a origem da múmia segue sem explicação definitiva, o que torna o caso ainda mais fascinante.
Uma relíquia esquecida que guardava segredos
Descoberta há mais de um século, a múmia foi doada ao Museu de Antropologia e Etnografia (MAET) antes de 1930, sem informações precisas sobre seu local de origem. Por isso, os cientistas só recentemente voltaram sua atenção à figura feminina, notando detalhes surpreendentes em seu rosto.
Sendo assim, uma equipe internacional decidiu investigar as marcas através de técnicas avançadas, como a reflectografia infravermelha, tecnologia geralmente usada para revelar camadas ocultas em obras de arte. Dessa maneira, revelaram três linhas na bochecha direita, uma linha na bochecha esquerda e a letra “S” tatuada no pulso direito.
Tatuagens andinas ou influência amazônica?
O posicionamento das tatuagens causou surpresa na comunidade científica.
“Marcas de pele no rosto são raras entre os grupos da antiga região andina e ainda mais raras nas bochechas”, explicaram os pesquisadores no estudo publicado na Journal of Cultural Heritage.
Isso porque, até o momento, não se conheciam exemplos semelhantes entre as múmias andinas. Por isso, embora o autor principal Gianluigi Mangiapane, da Universidade de Turim, aponte para uma possível origem sul-americana, mais precisamente dos Andes, nem todos os especialistas concordam. O arqueólogo Aaron Deter-Wolf, por exemplo, destacou que os desenhos faciais
“têm muito mais em comum com as tradições históricas do Ártico ou da Amazônia do que com as práticas andinas”.
Vale destacar que Deter-Wolf não participou diretamente do estudo, mas é uma referência no campo das tatuagens antigas.
A tinta que surpreendeu os pesquisadores
Outro ponto que aumentou o mistério foi a composição da tinta usada nas tatuagens. Em vez de carvão, os pesquisadores encontraram magnetita, um mineral de óxido de ferro, combinada com traços de augita. Cabe ressaltar, que esses dois minerais costumam ocorrer juntos no sul do Peru, o que reforça a teoria de uma origem andina.
Com isso, a presença de pigmentos minerais na tinta se mostrou coerente com relatos etnográficos antigos da América do Sul.
“O novo estudo se encaixa muito bem com eles”, afirmou Deter-Wolf.
A preservação ainda é prioridade
Apesar das dúvidas sobre por que a múmia foi parar na Itália e qual era sua real origem, os pesquisadores decidiram preservar a integridade do corpo.
“Como esses tipos de análises são invasivos, decidimos limitar tais procedimentos”, afirmou Mangiapane.
No entanto, o interesse do MAET em investigações futuras segue firme. Segundo o pesquisador, o museu considera explorar comparações culturais mais amplas, a fim de entender melhor as possíveis influências por trás das enigmáticas tatuagens faciais.
Portanto, mesmo com os avanços tecnológicos e análises não destrutivas, a múmia continua cercada de incertezas. O que parece claro é que ela representa um exemplo raríssimo de modificação corporal antiga e pode abrir novos caminhos para o entendimento de práticas culturais nas Américas pré-colombianas.