Mudanças tectônicas e climáticas estão transformando os ecossistemas do Alasca

Terremotos e degelo transformam o Delta do Rio Copper no Alasca. (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)
Terremotos e degelo transformam o Delta do Rio Copper no Alasca. (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)

O Delta do Rio Copper, no Alasca central-sul, é um exemplo vivo de como forças geológicas e climáticas podem remodelar ecossistemas inteiros. Este ambiente de zonas úmidas de alta latitude enfrenta um duplo impacto: a elevação tectônica causada por grandes terremotos e o degelo glacial intensificado pelo aquecimento global. Embora se esperasse que o aumento da temperatura favorecesse a produção de metano pelos microrganismos chamados metanógenos, a realidade encontrada é muito mais complexa.

Do mar à água doce: como terremotos remodelaram o delta

Eventos sísmicos significativos, como o terremoto de 1964, elevaram partes do delta em até 3,4 metros acima do nível do mar, transformando áreas marinhas em ambientes de água doce. Essa mudança estrutural criou condições inéditas para a vida microbiana, alterando o metabolismo de comunidades inteiras de microrganismos. Além disso, o escoamento crescente de água glacial rica em ferro tem introduzido novos elementos químicos no sistema, influenciando diretamente o ciclo do carbono local.

Micróbios mudam metabolismo em resposta a ferro e água doce. (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)
Micróbios mudam metabolismo em resposta a ferro e água doce. (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)

A nova dinâmica energética dos microrganismos envolvendo o ciclo do ferro

Estudos detalhados combinando geoquímica de sedimentos e análises metagenômicas revelaram que, embora os genes responsáveis pela metanogênese ainda estejam presentes, os microrganismos passaram a priorizar o ciclo do ferro como fonte de energia. 

Isso demonstra que fatores geológicos e climáticos podem mudar a dinâmica microbiana, mesmo quando a matéria orgânica disponível ainda permitiria a produção de metano. Assim, o aumento do ferro e da água doce está redefinindo os processos bioquímicos essenciais do delta.

Camadas profundas de sedimentos serão analisadas pelos cientistas

Para compreender melhor essas mudanças, pesquisadores planejam analisar camadas mais profundas de sedimentos. Essa abordagem permitirá mapear como a dinâmica microbiana evoluiu ao longo do tempo, oferecendo insights valiosos sobre o impacto de eventos tectônicos e climáticos.

Além disso, experimentos laboratoriais focados na interação entre ferro e carbono orgânico podem esclarecer como essas alterações afetam a produção de gases de efeito estufa, como o metano, em ecossistemas de alta latitude.

A pesquisa conduzida por Buser-Young e colaboradores, publicada na revista AGU Advances, destaca a importância de integrar geologia, clima e microbiologia para entender os efeitos das mudanças ambientais em ecossistemas sensíveis. Este estudo evidencia que processos globais podem ter consequências profundas mesmo em escalas microscópicas, transformando nossa compreensão sobre o ciclo do carbono e os impactos das alterações climáticas em regiões polares.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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