As águas subterrâneas desempenham um papel vital no equilíbrio climático global. Recentes pesquisas conduzidas pelo Instituto Max Planck de Biogeoquímica e pela Universidade de Jena, publicadas na PNAS, mostram que micróbios presentes nessas águas podem remover mais da metade do metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes, antes que ele alcance rios, pântanos ou a atmosfera. Essa descoberta abre novas perspectivas para entender e reduzir emissões naturais de metano, um passo importante no combate às mudanças climáticas.
Os dados do estudo indicam que a oxidação microbiana do metano varia conforme a concentração do gás e o tipo de solo, mostrando que micróbios atuam como um verdadeiro filtro biológico. Em linhas gerais, os resultados podem ser resumidos da seguinte forma:
– Micróbios das águas subterrâneas consomem grande parte do metano presente, impedindo que ele seja liberado para rios, pântanos e atmosfera;
– A eficiência da oxidação microbiana depende da concentração de metano e do tipo de aquífero, variando de alguns dias a várias décadas;
– O metano é utilizado pelos micróbios principalmente para gerar energia, e não para construir biomassa, mantendo o ecossistema ativo;
– Em áreas com concentrações muito altas de metano, algumas águas subterrâneas ainda podem liberar o gás para ecossistemas superficiais, contribuindo localmente para emissões;
– Estimativas globais indicam que micróbios removem entre 167 e 778 teragramas de metano por ano, o equivalente a aproximadamente dois terços do metano produzido nas águas subterrâneas em todo o mundo.
O metano e sua importância climática

O metano (CH₄) é cerca de 84 vezes mais potente que o dióxido de carbono no aquecimento global em um horizonte de 20 anos, tornando seu controle uma estratégia rápida e eficiente para mitigação climática.
Fontes de metano incluem processos microbianos naturais e reservatórios fósseis, e altas concentrações podem afetar a qualidade da água potável e impactar ecossistemas aquáticos.
Micróbios: filtros invisíveis nas águas subterrâneas
A pesquisa utilizou técnicas avançadas de traçador de radiocarbono para quantificar a oxidação do metano e determinar quanto do gás é consumido pelos microrganismos.
Os resultados mostram que a atividade microbiana limita significativamente a quantidade de metano que chega à atmosfera, desempenhando papel essencial na redução das emissões naturais.
Além disso, a análise global indica que, embora a maioria das águas subterrâneas seja efetivamente filtrada, regiões com concentrações muito altas de metano ainda representam uma fonte local significativa de emissões para rios, pântanos e, consequentemente, para o clima.
Implicações para gestão ambiental
Esses achados destacam a necessidade de monitoramento e gestão sustentável das águas subterrâneas, não apenas para proteger o clima, mas também para garantir água potável segura. Integrando conhecimentos de biogeoquímica, hidrogeologia e microbiologia, pesquisas como a do Centro AquaDiva contribuem para compreender como ecossistemas subterrâneos respondem às mudanças ambientais e como podem ajudar na mitigação de gases de efeito estufa.