A busca por vida em Marte desafia os limites do conhecimento científico, principalmente devido às condições extremamente hostis do planeta. Entre os fatores mais desafiadores estão ondas de choque de impactos de meteoritos e a presença de percloratos, sais altamente oxidantes encontrados no solo marciano, capazes de desestabilizar ligações de hidrogênio e interações hidrofóbicas em células vivas. Estudos recentes indicam que mesmo organismos simples, como a levedura Saccharomyces cerevisiae, podem sobreviver a essas adversidades, oferecendo novas perspectivas sobre a resistência biológica em ambientes extraterrestres.
Como a levedura enfrenta o estresse extremo
Pesquisadores publicaram seus resultados no PNAS Nexus, demonstrando que a levedura pode suportar condições extremas de Marte. Para resumir os principais achados:
- Sobrevivência a ondas de choque: a levedura resistiu a impactos simulando meteoritos, com intensidade de Mach 5,6;
- Resistência química: células toleraram 100 mM de perclorato, similar à concentração do solo marciano;
- Estresse combinado: a levedura ainda cresceu mesmo quando exposta simultaneamente a choque mecânico e químico;
- Formação de condensados RNP: estruturas celulares, como grânulos de estresse e corpos P, protegem o RNA durante condições extremas;
- Importância molecular: mutantes incapazes de formar condensados mostraram sobrevivência muito menor, indicando adaptação celular essencial.

Esses resultados indicam que a formação de condensados de ribonucleoproteínas (RNP), estruturas celulares que protegem o RNA, desempenha papel crucial na resistência ao estresse. Entre esses condensados, destacam-se os grânulos de estresse e os corpos P, que se reorganizam quando o organismo enfrenta ambientes adversos e retornam ao estado normal após a remoção do estressor.
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Descobertas moleculares e implicações biológicas
Além da resistência física, a análise do transcriptoma da levedura revelou alterações específicas nos transcritos de RNA, indicando respostas celulares complexas frente ao estresse químico e mecânico. Mutantes incapazes de formar condensados de RNP apresentaram sobrevivência significativamente menor, reforçando a importância dessas estruturas na adaptação celular.
Essas descobertas não apenas expandem a compreensão da resiliência biológica em condições extremas, mas também fornecem insights sobre possíveis formas de vida em Marte e em outros ambientes extraterrestres. O estudo sugere que mecanismos celulares fundamentais, como a formação de RNP, podem ser cruciais para a sobrevivência em planetas com atmosferas hostis e solos tóxicos.
Relevância para pesquisas futuras
Este estudo abre caminho para:
- Investigar organismos modelo em condições marcianas simuladas;
- Explorar estratégias celulares de adaptação a estresses combinados;
- Avaliar possíveis aplicações em biotecnologia espacial e exploração de vida em outros planetas.
Em síntese, Saccharomyces cerevisiae demonstra que a vida pode apresentar resistência surpreendente, mesmo em ambientes extremos como o de Marte, reforçando a importância de pesquisas experimentais em astrobiologia e na compreensão da adaptação celular a desafios extremos.