Durante décadas, acreditou-se que o hidrogênio não conseguia se acumular naturalmente no subsolo. Por ser leve, altamente reativo e fácil de escapar para a atmosfera, o gás era considerado inviável como recurso geológico. No entanto, avanços científicos recentes vêm desmontando esse paradigma e revelam um cenário surpreendente: a crosta terrestre pode conter hidrogênio suficiente para abastecer o mundo por dezenas de milhares de anos.
Esse tipo de hidrogênio, chamado de hidrogênio natural ou “dourado”, é gerado por processos geológicos contínuos e pode representar uma das fontes de energia limpa mais promissoras já identificadas.
Logo nos primeiros estudos globais, pesquisadores perceberam que o hidrogênio subterrâneo não é raro, apenas mal procurado. Diferente do petróleo e do gás natural, ele se forma em contextos geológicos específicos e exige uma nova lógica de exploração. Em síntese, o hidrogênio natural apresenta vantagens estratégicas claras:
- Baixíssima pegada de carbono, limitada à extração;
- Armazenamento natural, já presente em reservatórios geológicos;
- Potencial para substituir combustíveis fósseis por séculos;
- Aplicação direta em indústria, fertilizantes, transporte e geração elétrica.
Uma fonte limpa que nasce dentro das rochas

O hidrogênio natural se forma principalmente quando rochas ricas em ferro entram em contato com água subterrânea aquecida, desencadeando reações químicas capazes de liberar o gás ao longo do tempo. Além disso, rochas que contêm elementos radioativos, como urânio e tório, podem promover a divisão das moléculas de água em hidrogênio e oxigênio por meio de um processo físico conhecido como radiólise. No entanto, para que esse hidrogênio não se disperse para a atmosfera, é necessário que exista um conjunto bastante específico de condições geológicas.
Entre elas estão a presença contínua de água subterrânea, rochas capazes de produzir e armazenar o gás em seus poros, temperaturas elevadas que aceleram as reações químicas, além de selos geológicos impermeáveis que impeçam o escape do hidrogênio. Outro fator crucial é a baixa atividade microbiana, já que muitos microrganismos consomem hidrogênio como fonte de energia.
Quando todas essas condições atuam de forma conjunta, tornam-se possíveis a formação e a preservação de reservatórios naturais de hidrogênio, alguns deles potencialmente comparáveis, em escala e relevância energética, aos tradicionais reservatórios de petróleo.
Um recurso capaz de reduzir emissões em larga escala
Estudos recentes estimam que o planeta abriga trilhões de toneladas de hidrogênio na crosta terrestre. Mesmo que apenas uma fração mínima seja economicamente acessível, o impacto climático seria significativo. Substituir o hidrogênio industrial, hoje produzido majoritariamente a partir de gás natural, poderia reduzir bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
Além disso, novas abordagens investigam a produção estimulada de hidrogênio, usando o próprio conhecimento geológico para acelerar sua formação em profundidade.
Desse jeito, o hidrogênio surge como peça-chave na transição energética, especialmente para setores difíceis de descarbonizar. À medida que a ciência avança e a exploração se torna mais precisa, essa fonte invisível pode transformar radicalmente a forma como produzimos energia no século XXI.

