Gelo milenar da Antártida pode prever catástrofes do aquecimento global

Gelo milenar da Antártida revela riscos do aquecimento global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Gelo milenar da Antártida revela riscos do aquecimento global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A Antártida, o continente mais frio, seco e ventoso do planeta, está novamente no centro da atenção científica. Uma missão inédita combina aventura extrema e pesquisa de ponta, com o objetivo de analisar gelo com mais de 130.000 anos, oferecendo pistas sobre como o planeta pode reagir ao aumento das temperaturas globais.

A expedição francesa pretende atravessar cerca de 4.000 quilômetros em esquis adaptados para kitesurf, enfrentando temperaturas que podem chegar a -50 °C e altitudes de até 3.800 metros. Cada participante carregará seu próprio equipamento, alimentos e tecnologia de análise, incluindo radares capazes de escanear camadas profundas de gelo.

Principais características da missão:

  • Percurso de aproximadamente 90 dias, em completo isolamento;
  • Viagem de até 200 km por dia, dependendo das condições do vento;
  • Coleta de gelo antigo entre a Antártida Oriental e Ocidental;
  • Rastreamento de camadas profundas que refletem climas passados.

Gelo milenar como indicador climático

Gelo milenar da Antártida revela riscos do aquecimento global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Gelo milenar da Antártida revela riscos do aquecimento global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O foco da expedição está nas camadas de gelo formadas há 130.000 anos, período em que a Terra era cerca de 3 °C mais quente do que atualmente. Estudar essas camadas permite entender se regiões da Antártida Ocidental entraram em colapso durante aquecimentos passados e quais consequências isso trouxe para o nível do mar.

Essa área contém gelo suficiente para elevar o nível dos oceanos em 4 a 6 metros, uma ameaça significativa caso ocorra um colapso semelhante no futuro. Ao analisar a profundidade e a idade do gelo, os cientistas esperam gerar dados que aprimorem modelos climáticos globais e alertem sobre riscos potenciais para milhões de pessoas em áreas costeiras.

Desafios da Antártida

Além das temperaturas extremas, a região impõe desafios logísticos e físicos. A dupla francesa estará distante de qualquer assentamento humano ou vida selvagem, enfrentando condições adversas em um ambiente completamente desabitado. Cada refeição e item transportado foi cuidadosamente planejado para otimizar peso e nutrição, demonstrando a importância de uma preparação meticulosa em pesquisas polares.

Expedição na Antártida mostra o futuro do nível do mar. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Expedição na Antártida mostra o futuro do nível do mar. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A expedição também se conecta a eventos globais, como a COP30, reforçando a urgência de medidas para conter o aquecimento global. Os resultados esperados poderão ser compartilhados com líderes mundiais, fornecendo evidências concretas para políticas de descarbonização e uso sustentável de combustíveis fósseis.

Um alerta científico e humano

Mais do que aventura, a missão é um chamado à ação. O estudo das camadas de gelo milenares traz insights sobre a resiliência da Antártida frente a temperaturas elevadas e enfatiza que ações imediatas podem evitar impactos irreversíveis.

A pesquisa combina tecnologia de ponta, planejamento estratégico e resistência física, oferecendo à comunidade científica dados vitais sobre o passado e o futuro climático do planeta.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.