A ideia de que os fungos atuaram como arquitetos primordiais da Terra, muito antes do aparecimento das primeiras plantas, está reformulando a compreensão sobre a origem da vida nos continentes. Novas análises genéticas e cronológicas sugerem que esses organismos silenciosos já desempenhavam papéis fundamentais há mais de um bilhão de anos, preparando o ambiente para a futura explosão biológica terrestre.
Ao longo de eras em um planeta dominado por formas unicelulares, os fungos surgiram com estruturas capazes de transformar minerais, reciclar nutrientes e interagir com outras formas de vida primitiva, como algas. Essa atuação precoce teria pavimentado as condições mínimas necessárias para a colonização da Terra sólida.
Possíveis funções ecológicas ancestrais dos fungos:
- Decomposição de rochas e liberação de minerais;
- Formação dos primeiros solos primitivos;
- Interações simbióticas com algas em estruturas microbianas;
- Reciclagem de nutrientes essenciais em ambientes hostis.
Um relógio genético para decifrar o passado

Diferentemente de plantas e animais, os fungos quase não deixam fósseis. Para contornar essa lacuna, os cientistas recorreram a um “relógio molecular”, analisando mutações acumuladas ao longo de milhões de anos. A inclusão de raros eventos de transferência horizontal de genes entre linhagens permitiu recalibrar essa linha do tempo com mais precisão, apontando para um ancestral comum entre 0,9 e 1,4 bilhão de anos.
Esse achado reforça que a diversificação fúngica antecedeu em centenas de milhões de anos o surgimento das primeiras plantas terrestres, abrindo uma nova perspectiva sobre o papel desse reino na estruturação dos ecossistemas.
Um novo cenário para a origem da vida terrestre
Antes de qualquer raiz penetrar o solo, os fungos já estariam presentes, desgastando rochas e modificando superfícies minerais. Ao interagir com algas, teriam formado comunidades primitivas semelhantes a biofilmes, essenciais para transformar ambientes áridos em nichos habitáveis.
Essa atividade precoce indica que as plantas não conquistaram um terreno estéril, mas sim um ambiente previamente modificado, rico em microciclos biológicos e mineralógicos iniciados pelos fungos.
A teoria de que os fungos iniciaram esse processo reescreve a narrativa da vida no continente. Em vez de serem coadjuvantes, eles surgem como protagonistas invisíveis, responsáveis por abrir caminho para a biodiversidade futura.