Fósseis antigos revelam interação entre Neandertais e Sapiens

Ilustração artística realista de uma família onde ocorreu o cruzamento entre um homem Neandertal e mulher Homo sapiens (Crédito da imagem: Canva Pro/ Gerada com IA)

Há quase um século, arqueólogos descobriram na Caverna Skhul, no Monte Carmelo (Israel), sepultamentos de humanos que viveram há cerca de 140 mil anos. Desde então, esses fósseis despertam a curiosidade da ciência por apresentarem uma combinação incomum de características. Agora, análises recentes com tecnologias de alta resolução apontam que esses indivíduos podem representar o registro mais antigo de cruzamentos entre Neandertais e Homo sapiens.

O achado desafia a linha do tempo conhecida da evolução humana e pode transformar a forma como entendemos a relação entre nossas espécies ancestrais.

Principais descobertas do estudo:

  • Os fósseis têm aproximadamente 140 mil anos, um dos registros mais antigos de sepultamentos humanos;
  • Indivíduos exibiam uma morfologia em mosaico, mesclando traços de Sapiens e Neandertais;
  • A convivência entre os dois grupos pode ter começado 100 mil anos antes do que se estimava;
  • Foram usadas microtomografias computadorizadas (micro-CT) para analisar crânio e mandíbula em alta resolução;
  • Os rituais funerários indicam organização social e territorialidade surpreendentemente antigas.

Evidências anatômicas de mistura e convivência prolongada

Ilustração artística realista de uma criança híbrida Neandertal-Sapiens (Crédito da imagem: Canva Pro/ Gerada com IA)

O primeiro esqueleto encontrado era de uma criança de três a cinco anos. O estudo revelou que, embora a curvatura craniana fosse típica de um Homo sapiens, a estrutura interna do ouvido, a mandíbula e a formação dentária apresentavam semelhanças marcantes com os Neandertais. Esse padrão, descrito como morfologia em mosaico, também foi identificado em outros indivíduos de Skhul, reforçando a hipótese de interações próximas entre as duas espécies.

Até pouco tempo, acreditava-se que Neandertais e Homo sapiens só haviam se cruzado entre 50 mil e 43 mil anos atrás. No entanto, os fósseis de Skhul sugerem que essa relação pode ter começado quase 100 mil anos antes

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Cautela por parte dos pesquisadores

Especialistas alertam que dados anatômicos, isoladamente, podem ser ambíguos. O fato de o fóssil analisado ser de uma criança levanta dúvidas adicionais, já que o crescimento infantil pode alterar certas proporções ósseas. Por isso, o DNA e marcadores bioquímicos continuam sendo fundamentais para confirmar a hibridização.

Implicações culturais

Além das evidências biológicas, os sepultamentos em Skhul revelam aspectos sociais inéditos. O ato de designar um espaço para enterrar seus mortos indica territorialidade e identidade coletiva, comportamentos geralmente associados a épocas muito posteriores, como o início da agricultura. Como destacou Hershkovitz, autor do estudo, já naquela época grupos humanos mostravam formas de organização social mais complexas do que se pensava.

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Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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