Faltam 3 anos para crise climática; será possível reverter cenário?

Aumento da temperatura global representado por modelo da Terra com termômetro (Foto: Canva Pro)

O planeta está diante de um alerta vermelho climático. Um novo relatório publicado em junho por mais de 60 cientistas revela que temos apenas três anos antes de ultrapassarmos o limite crítico de 1,5°C no aquecimento global. Esse dado alarmante levanta uma questão urgente: ainda dá tempo de evitar o pior ou podemos reverter o que está por vir? Vamos entender o que a ciência diz e o que podemos fazer agora, aqui no Fala Ciência!

Por que o limite de 1,5°C é tão crucial?

  • 1,5°C é o limite estabelecido no Acordo de Paris para evitar impactos climáticos mais severos;
  • Nações insulares e países em desenvolvimento serão os mais afetados se ultrapassarmos esse limite;
  • Ultrapassar 1,5°C aumenta o risco de colapsos ecológicos, como o derretimento da Groenlândia ou a savanização da Amazônia;
  • Cada fração de grau conta: reduzir emissões agora evita danos maiores e mais caros no futuro;
  • Mesmo passando de 1,5°C, ações rápidas podem estabilizar ou até reduzir a temperatura global no longo prazo.

Cabe ressaltar que, segundo a cientista Kirsten Zickfeld, esse patamar marca um estado em que “ainda podemos administrar as consequências”.

Ultrapassar esse limite pode desencadear efeitos irreversíveis, como o colapso da calota de gelo da Groenlândia ou a transformação da Amazônia em savana. Por isso, manter-se abaixo desse ponto é fundamental para preservar ecossistemas e evitar impactos extremos.

Estamos condenados ao aquecimento ou há saída?

Poluição do ar na planta petroquímica de Tarragona, Espanha (Foto: Canva Pro)

Vale destacar que, mesmo que ultrapassemos 1,5°C, não significa o fim do mundo. “Cada fração de grau de aquecimento que evitamos nos torna melhores”, afirmou o renomado climatologista Michael Mann. Sendo assim, controlar as emissões ainda é a estratégia mais eficiente e acessível.

Além disso, se conseguirmos zerar ou até tornar negativas as emissões de CO₂, há chances reais de reduzir gradualmente a temperatura. Isso porque, com o tempo, os sumidouros naturais de carbono (como florestas e solos) podem ajudar a reequilibrar o sistema.

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Por que agir agora é mais eficaz do que remediar depois

Hoje, emitimos cerca de 46 bilhões de toneladas de CO₂ por ano. Se continuarmos nesse ritmo, o orçamento de carbono global se esgotará em três anos, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial. Dessa maneira, atrasar a ação significa ter que compensar com soluções futuras muito mais caras e incertas. Zickfeld alerta:

Para reduzir 0,1°C, precisaríamos remover cerca de 220 bilhões de toneladas métricas de CO₂”.

Isso porque as técnicas atuais, como o plantio de árvores, sequestram apenas 2 bilhões por ano. Desse jeito, seria necessário aumentar essa capacidade em cem vezes, o que é praticamente inviável sem tecnologia avançada.

Tecnologia pode ajudar, mas não é solução mágica

Com isso, a expectativa recai sobre as chamadas tecnologias de emissões negativas, como a captura e armazenamento de carbono. Porém, segundo o pesquisador Robin Lamboll, essas soluções ainda são caras e pouco desenvolvidas. Portanto, confiar exclusivamente nelas seria um risco.

Além disso, o próprio Acordo de Paris não obriga os países a implementarem essas tecnologias. Isso demonstra que, mesmo que existam caminhos para reverter o aquecimento, o foco deve continuar sendo cortar emissões de forma urgente e decisiva.

O tempo está contra nós, mas não é tarde demais

O relatório conclui que, na taxa atual, o mundo usará o orçamento de carbono para 1,6°C em 7 anos, 1,7°C em 12 anos e 2°C em 25 anos. Sendo assim, cada décimo de grau importa. Como resume Michael Mann:

Se ultrapassarmos 1,5°C, 1,6°C é muito melhor que 1,7°C, e 1,7°C é muito melhor que 1,8°C”.

Dessa forma, ainda temos uma janela de oportunidade. Vale a pena agir agora para minimizar os impactos e evitar um futuro mais quente, instável e perigoso. A ciência está dizendo o que precisa ser feito. A pergunta que fica é: vamos escutá-la?

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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