Estudo revela que chumbo pode ter influenciado desenvolvimento cerebral e fala humana

Exposição ao chumbo pode ter moldado a evolução do cérebro humano (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)
Exposição ao chumbo pode ter moldado a evolução do cérebro humano (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)

Novas evidências científicas indicam que a exposição ao chumbo pode ter desempenhado um papel inesperado na evolução do cérebro humano. A análise de dentes fossilizados de diferentes hominídeos e grandes primatas revelou que nossos ancestrais conviveram com o metal por pelo menos 2 milhões de anos, muito antes da industrialização ou do uso do chumbo na sociedade moderna. Essa longa exposição poderia ter selecionado indivíduos com maior resistência neurobiológica, promovendo avanços cognitivos que contribuíram para habilidades essenciais como linguagem, comunicação e cooperação.

O estudo, publicado na Science Advances, combinou técnicas de análise de fósseis com experimentos em organoides cerebrais, proporcionando insights inéditos sobre como variações genéticas específicas influenciam a resposta do cérebro a toxinas ambientais.

Destaques da pesquisa:

  • Dentes fósseis de Australopithecus, Homo primitivos, neandertais e Gigantopithecus blacki revelam presença recorrente de chumbo;
  • Análise de linhas microscópicas no esmalte e dentina indica exposições sucessivas ao metal;
  • Experimentos com minicérebros demonstram diferença funcional entre variantes genéticas do gene NOVA1;
  • Versão moderna do NOVA1, presente em Homo sapiens, protege redes neurais e preserva expressão de FOXP2, gene ligado à fala.

Como o chumbo influenciou a evolução

Dentes fósseis mostram registro de chumbo em humanos primitivos (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)
Dentes fósseis mostram registro de chumbo em humanos primitivos (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)

Os dentes funcionam como verdadeiros registros temporais, armazenando informações sobre minerais e metais presentes no ambiente durante o crescimento. A presença repetida de chumbo indica que os indivíduos pré-históricos ingeriam o metal naturalmente, seja por água subterrânea contaminada, solos ricos em chumbo ou alimentos carregados pelo ambiente.

Essa pressão ambiental teria atuado como um filtro evolutivo, favorecendo indivíduos capazes de resistir aos efeitos neurotóxicos do chumbo. O resultado: um cérebro mais resiliente e apto a desenvolver habilidades cognitivas avançadas, incluindo a linguagem.

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Evidências genéticas em organoides cerebrais

Para testar o impacto do chumbo no desenvolvimento neural, cientistas cultivaram organoides cerebrais com diferentes variantes do gene NOVA1. A versão moderna, exclusiva do Homo sapiens, demonstrou proteger os neurônios contra a toxicidade do metal, enquanto a versão arcaica, presente em neandertais, mostrava maior vulnerabilidade e afetava diretamente a expressão de FOXP2, fundamental para a fala.

  • Explica a vantagem evolutiva do Homo sapiens sobre outros hominídeos;
  • Sugere que a seleção natural favoreceu resistência a toxinas ambientais;
  • Destaca a relação entre ambiente, genética e surgimento da linguagem.

A pesquisa levanta hipóteses ousadas sobre como exposição a metais tóxicos pode ter moldado o cérebro humano e facilitado o surgimento de sociedades complexas. Compreender essas interações entre genes e ambiente amplia nossa visão sobre a evolução da linguagem e cognição, além de oferecer pistas para estudos em neurociência evolutiva.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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