Estudo genético revela por que o pinguim hoiho pode desaparecer

Pesquisadores alertam para risco de extinção do raro hoiho (Imagem: Mike Jones/ Canva Pro)
Pesquisadores alertam para risco de extinção do raro hoiho (Imagem: Mike Jones/ Canva Pro)

O pinguim-de-olhos-amarelos (hoiho), uma das aves marinhas mais raras do planeta, acaba de ter seu genoma decifrado em um estudo que muda o rumo da conservação da espécie. Publicada em pré-impressão no bioRxiv, a pesquisa liderada por cientistas da Universidade de Otago mostra que o hoiho não é apenas uma única espécie, ele é composto por três subespécies geneticamente distintas, cada uma com adaptações próprias e desafios únicos de sobrevivência.

Essa descoberta representa um avanço crucial para a biologia da conservação, revelando diferenças genéticas profundas que ajudam a explicar por que algumas populações são mais vulneráveis a doenças do que outras.

Três linhagens, três histórias evolutivas

Usando o sequenciamento completo do genoma de cerca de 250 pinguins coletados na Nova Zelândia e nas ilhas subantárticas Enderby e Campbell, os cientistas observaram divisões genéticas que apontam para três linhagens divergentes, separadas há entre 5 mil e 16 mil anos.

Estudo mostra genes ligados à doença respiratória em pinguins (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Estudo mostra genes ligados à doença respiratória em pinguins (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Essas variações genéticas indicam que cada grupo evoluiu de forma independente, desenvolvendo características específicas para sobreviver em ambientes diferentes, desde as praias temperadas do continente até as condições extremas das ilhas subantárticas.

  • Subespécie continental: enfrenta forte declínio populacional e doenças respiratórias;
  • Subespécies subantárticas: geneticamente mais estáveis e resistentes;
  • Divergência evolutiva: mostra como o isolamento geográfico moldou a genética do hoiho.

Genética e vulnerabilidade à doença respiratória

Um dos achados mais alarmantes está ligado à síndrome do desconforto respiratório, uma condição letal associada a um girovírus que atinge filhotes da população continental. Ao comparar os genomas das três subespécies, os cientistas identificaram genes relacionados às funções imunológicas e respiratórias, sugerindo que a linhagem do norte possui uma vulnerabilidade maior a infecções.

Descoberta genética expõe vulnerabilidade do pinguim-de-olhos-amarelos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Descoberta genética expõe vulnerabilidade do pinguim-de-olhos-amarelos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Esse conhecimento pode orientar estratégias de manejo genético, ajudando a proteger populações mais sensíveis e a desenvolver planos de cruzamento ou isolamento reprodutivo quando necessário.

Implicações para a conservação

As descobertas genéticas redefinem a maneira como a conservação do hoiho deve ser conduzida. Cada subespécie possui um legado evolutivo e cultural próprio, o que exige ações específicas em vez de políticas generalizadas. 

Além disso, a colaboração entre pesquisadores, autoridades ambientais e comunidades locais, como o grupo Ngāi Tahu, será essencial para proteger o pinguim em todas as suas regiões.

Entre as medidas urgentes destacam-se:

  • Proteção intensiva da subespécie continental, com menos de 150 casais reprodutores;
  • Monitoramento genético contínuo das linhagens subantárticas;
  • Controle e vigilância de doenças virais que afetam os filhotes.

Um alerta para o futuro

Genoma do pinguim hoiho revela três subespécies distintas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Genoma do pinguim hoiho revela três subespécies distintas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Mais do que revelar a diversidade genética do hoiho, o estudo demonstra o poder da genômica aplicada à conservação. A análise detalhada do DNA dessas aves oferece ferramentas para compreender e mitigar ameaças que antes passavam despercebidas.

Se nenhuma ação for tomada, o pinguim-de-olhos-amarelos pode desaparecer em poucas décadas. Mas com base nos novos dados genéticos, há esperança de criar estratégias eficazes e direcionadas para preservar uma das aves mais emblemáticas da Nova Zelândia.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.