Uma nova pesquisa publicada na Physics of the Earth and Planetary Interiors revelou mudanças significativas no campo magnético da Terra, especialmente na Anomalia do Atlântico Sul (AAS), uma região onde essa proteção natural se mostra mais fraca. De acordo com dados de satélites da missão Swarm, da Agência Espacial Europeia, essa área cresceu consideravelmente desde 2014, cobrindo hoje quase metade do tamanho da Europa. O fenômeno preocupa a comunidade científica, pois o campo magnético atua como barreira contra radiação solar e cósmica, protegendo a atmosfera e a vida no planeta.
Para entender a importância dessa descoberta, é essencial lembrar que o campo magnético é gerado pelo movimento do ferro líquido no núcleo externo terrestre, um processo conhecido como dínamo geofísico. Quando há variações nesse fluxo, o equilíbrio do escudo magnético pode se alterar rapidamente, trazendo efeitos perceptíveis na superfície.
Principais impactos observados até agora:
- Satélites ficam mais vulneráveis a descargas elétricas ao cruzar a região;
- Astronautas e aviões enfrentam maior exposição à radiação;
- Sistemas de comunicação e navegação podem sofrer interferências;
- Equipamentos orbitais têm risco aumentado de falhas;
- Mudanças climáticas locais podem ser influenciadas por variações magnéticas.
A origem do distúrbio sob o Atlântico

A anomalia não é um evento recente, foi registrada pela primeira vez na década de 1960, mas só agora os dados mostram o quanto ela vem se tornando mais complexa. As medições indicam que parte das linhas magnéticas se invertem nessa região, mergulhando de volta ao interior do planeta em vez de emergirem para o espaço. Essa inversão pode estar relacionada a uma mancha de material superaquecido nas profundezas da África, chamada de Grande Província Africana de Baixa Velocidade de Cisalhamento, que interfere nos fluxos de convecção do núcleo.
Alterações globais e futuro incerto
Além da expansão da AAS, os satélites Swarm detectaram outras anomalias menores, entre elas, um enfraquecimento no Canadá e um fortalecimento na Sibéria. Isso indica que o núcleo da Terra está em constante mutação, com padrões magnéticos que mudam em poucos anos. Entender essas variações é crucial para proteger infraestruturas críticas e antecipar possíveis riscos tecnológicos e biológicos associados à radiação.
O fenômeno reforça o quanto o planeta é vivo, dinâmico e interligado. O estudo do campo magnético, antes restrito à geofísica, hoje se mostra essencial para a segurança de satélites, aeronaves e sistemas de comunicação global, revelando uma nova fronteira da ciência planetária.