Embora muitas vezes classificado como “DNA lixo”, parte do nosso genoma esconde funções surpreendentes e essenciais à vida. Cerca de 9% do DNA humano é formado por vestígios de vírus antigos, que infectaram nossos ancestrais há milhões de anos. Um novo estudo, publicado na revista Nature, revela que um desses fragmentos virais é crucial para os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário humano, desafiando antigas concepções sobre genética.
Logo nos primeiros dias após a fecundação, quando o embrião ainda está em forma de blastocisto, ocorrem processos decisivos para a formação de todos os tecidos do corpo. Foi justamente nessa fase que pesquisadores identificaram a atuação de um elemento viral específico, conhecido como HERVK LTR5Hs, integrado ao nosso DNA desde a linhagem humana primitiva.
Diferentemente do que se imaginava, esse trecho viral não é passivo. Ele atua como um regulador genético essencial.
Impactos do DNA viral no embrião:
- Atua como intensificador de genes cruciais;
- Controla a formação do epiblasto, base de todos os tecidos humanos;
- Regula genes ligados ao crescimento e metabolismo celular;
- Sua remoção leva ao colapso do desenvolvimento inicial;
- Pode explicar características únicas da espécie humana.
O passado viral que molda o presente humano

Usando modelos tridimensionais chamados blastoides, os cientistas demonstraram que, ao desativar os elementos LTR5Hs, a estrutura embrionária se desorganiza e deixa de evoluir. Isso indica que esses fragmentos virais funcionam como verdadeiras “chaves genéticas”, acionando genes indispensáveis aos primeiros passos da vida.
Entre os genes controlados está o ZNF729, envolvido em processos celulares vitais. A presença desse controle genético exclusivo em humanos sugere que parte de nossa complexidade biológica pode ter origem em material herdado de antigos retrovírus.
Uma nova visão sobre o genoma
Esse achado amplia a compreensão sobre a evolução humana e reforça que o genoma é mais do que a soma dos nossos genes: é um mosaico de história biológica, onde elementos virais desempenham funções determinantes. Ao invés de vilões, esses fragmentos podem ter sido aliados essenciais na construção da vida humana.