Muito antes dos observatórios e supercomputadores, uma civilização antiga já compreendia os ritmos do cosmos com uma precisão impressionante. Um novo estudo publicado na revista Science Advances mostra que o calendário maia era capaz de prever eclipses solares e lunares com uma exatidão que surpreende até os astrônomos modernos.
Os maias, fascinados pelos movimentos celestes, desenvolveram um sistema complexo de contagem do tempo que combinava matemática, astronomia e espiritualidade. O resultado foi o Tzolk’in, um calendário sagrado de 260 dias, usado tanto em cerimônias religiosas quanto para guiar previsões astronômicas.
Em seus registros, como o famoso Códice de Dresden, os astrônomos maias catalogaram 405 luas novas, correspondentes a 46 ciclos completos do Tzolk’in. Essa correlação permitia antecipar fases da Lua com um erro inferior a um dia, um feito extraordinário para uma cultura sem instrumentos ópticos.
Padrões celestes e cálculos impressionantes

Os maias perceberam que eclipses não ocorrem a cada mês porque o plano orbital da Lua é inclinado cerca de cinco graus em relação ao da Terra. Mesmo assim, eles identificaram os pontos de cruzamento, chamados nodos, e reconheceram que os eclipses só aconteciam quando Sol, Terra e Lua se alinhavam nesses pontos.
Com base nisso, seus especialistas em cronologia conseguiram antecipar quando esses fenômenos voltariam a ocorrer, o que exigia observações contínuas e ajustes constantes.
Principais descobertas do estudo:
- O calendário maia previa eclipses com erro mínimo, ajustado por ciclos astronômicos;
- Os “guardiões do dia” mantinham a precisão usando os ciclos inex (358 meses) e saros (223 meses);
- O sistema teria sido criado entre 1083 e 1140, permanecendo funcional até hoje.
Conhecimento milenar que atravessou o tempo

Esses cálculos mostram que o conhecimento astronômico maia era não apenas simbólico, mas cientificamente rigoroso. Seus ciclos foram ajustados e mantidos ao longo de séculos, o que permitiu à civilização prever fenômenos visíveis em todo o planeta, uma façanha rara na história da ciência antiga.
O estudo, conduzido por John Justeson, da Universidade Estadual de Nova York, reforça que o Tzolk’in não era apenas um marcador do tempo, mas um verdadeiro instrumento científico de previsão astronômica. Mesmo sem telescópios, os maias já observavam o céu com a precisão de quem lia os segredos do universo.

