Descoberta no Ártico revela como o gelo “nutre” as algas marinhas

Bactérias sob o gelo do Ártico sustentam algas e o equilíbrio marinho (Imagem: Scopio Images/ Canva Pro)
Bactérias sob o gelo do Ártico sustentam algas e o equilíbrio marinho (Imagem: Scopio Images/ Canva Pro)

O Oceano Ártico abriga um segredo que começa a mudar a forma como entendemos a vida marinha e o clima global. Pesquisadores da Universidade de Copenhague revelaram que bactérias microscópicas escondidas sob o gelo desempenham um papel essencial na fixação de nitrogênio, um processo fundamental para a nutrição das algas, base de toda a cadeia alimentar oceânica.

Esses organismos, mesmo em temperaturas extremas e pouca luz, conseguem transformar o nitrogênio dissolvido na água em compostos nutritivos, garantindo energia para as algas e para os seres que delas dependem. Assim, o gelo, antes visto como barreira à vida, revela-se um ecossistema ativo e pulsante.

Um ciclo natural que alimenta o oceano

De forma simplificada, o funcionamento desse sistema pode ser resumido assim:

  • Bactérias fixam o nitrogênio presente na água;
  • Algas absorvem o nutriente e crescem;
  • As bactérias se alimentam da matéria orgânica das algas;
  • O ciclo se renova, fortalecendo a cadeia marinha.
Vida invisível no Ártico ajuda o oceano a absorver mais CO₂ (Imagem: TrueCreatives/ Canva Pro)
Vida invisível no Ártico ajuda o oceano a absorver mais CO₂ (Imagem: TrueCreatives/ Canva Pro)

Além disso, os cientistas observaram que a maior parte dessa atividade ocorre nas bordas do gelo, onde o derretimento é mais intenso. Paradoxalmente, o aquecimento global, ao reduzir a cobertura de gelo, pode estar aumentando a disponibilidade de nitrogênio e, consequentemente, o crescimento de algas no Ártico.

Um aliado inesperado contra o aquecimento global

O aumento da produção de algas traz um efeito colateral potencialmente positivo: maior absorção de dióxido de carbono (CO₂). Isso acontece porque parte do carbono fica retido na biomassa algal, o que ajuda o oceano a atuar como um sumidouro natural de carbono.

Contudo, os especialistas alertam que o equilíbrio é delicado. As mudanças climáticas podem alterar não só a cobertura de gelo, mas também outros processos biológicos que interagem com esse sistema, dificultando previsões precisas sobre o impacto total.

O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, reforça a importância de considerar a fixação de nitrogênio em modelos que buscam prever o futuro do Oceano Ártico. Sob o gelo, uma rede invisível de vida continua a trabalhar silenciosamente para sustentar o planeta.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.