Cometa 3I/ATLAS pode ser mais velho que o Sistema Solar

Cometa 3I/ATLAS pode ser mais antigo que o Sistema Solar (Imagem: NASA, ESA, D. Jewitt (UCLA)/ Licença CC BY-SA 4.0)
Cometa 3I/ATLAS pode ser mais antigo que o Sistema Solar (Imagem: NASA, ESA, D. Jewitt (UCLA)/ Licença CC BY-SA 4.0)

A descoberta do cometa interestelar 3I/ATLAS vem intrigando a comunidade científica mundial. Detectado em julho de 2025 no Chile, o corpo celeste exibe uma composição química tão incomum que pode indicar uma origem anterior ao próprio Sistema Solar, o que o tornaria o cometa mais antigo já observado.

Além de seu percurso enigmático, o 3I/ATLAS impressiona por detalhes que desafiam a física conhecida. Os pesquisadores identificaram vapor de níquel em torno do cometa a distâncias em que o calor solar é insuficiente para vaporizá-lo, sugerindo processos químicos ainda pouco compreendidos em ambientes frios do espaço profundo.

O que já se sabe sobre o cometa 3I/ATLAS

Estudos conduzidos com o Very Large Telescope (VLT) e o Telescópio Espacial James Webb (JWST) revelaram características que o diferenciam de qualquer outro cometa já analisado:

  • Coma dominada por dióxido de carbono (CO₂), em vez de água ou poeira, algo sem precedentes;
  • Concentração de CO₂ oito vezes maior que a de água, superando em seis vezes o limite esperado para variações naturais;
  • Núcleo sólido estimado entre 320 metros e 5,6 km de diâmetro;
  • Velocidade superior a 210 mil km/h, confirmando sua origem extrassolar;
  • Atividade de emissão de água (OH) detectada a mais de 450 milhões de km do Sol.

Esses dados indicam que o 3I/ATLAS pode conter materiais formados antes da consolidação do Sistema Solar, preservando registros da química primordial da galáxia.

Corrida contra o tempo cósmico

Descoberta revela vapor de níquel em cometa interestelar (Imagem: CSS, D. Rankin/ Licença CC BY-SA 4.0)
Descoberta revela vapor de níquel em cometa interestelar (Imagem: CSS, D. Rankin/ Licença CC BY-SA 4.0)

Por viajar em uma trajetória de passagem única, o cometa não retornará. Isso faz com que as equipes internacionais estejam em corrida contra o tempo para coletar o máximo de dados possível antes que o corpo desapareça no espaço interestelar.

Entre novembro de 2025 e janeiro de 2026, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) conduzirá uma campanha global de observação, voltada a aprimorar métodos de astrometria e ampliar o entendimento sobre a composição dos cometas extrassolares.

Um relicário de antes do Sol

3I/ATLAS: corpo celeste carrega materiais de bilhões de anos (Imagem: David Jewitt et al/ Licença CC BY-SA 4.0)
3I/ATLAS: corpo celeste carrega materiais de bilhões de anos (Imagem: David Jewitt et al/ Licença CC BY-SA 4.0)

Modelos computacionais recentes sugerem que o 3I/ATLAS possa ter mais de sete bilhões de anos, cerca de 500 milhões de anos mais velho que o Sistema Solar. Essa idade extraordinária faz dele uma testemunha dos estágios primordiais da formação estelar, um verdadeiro fóssil cósmico que carrega fragmentos de um tempo anterior ao nascimento do Sol.

A análise do 3I/ATLAS pode, portanto, redefinir teorias sobre a origem dos cometas e ampliar nossa compreensão sobre a matéria que compõe a galáxia. Se confirmada sua antiguidade, estaríamos diante de um visitante de outra era do universo, um viajante silencioso que atravessou bilhões de anos para nos contar, em gás, poeira e metal, a história mais antiga já registrada.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.