Cientistas esclarecem: o cometa 3I/ATLAS nunca mudou realmente de cor

Cometa 3I/ATLAS exibe brilho azul intenso durante aproximação do Sol (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Cometa 3I/ATLAS exibe brilho azul intenso durante aproximação do Sol (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O cometa 3I/ATLAS, o terceiro objeto interestelar já detectado cruzando o Sistema Solar, voltou a chamar atenção ao exibir uma tonalidade azul intensa durante sua recente aproximação do Sol. As imagens capturadas por sondas solares mostraram um brilho surpreendente, mais forte e azulado do que em observações anteriores, o suficiente para gerar manchetes sobre uma possível “mudança de cor”. No entanto, segundo o estudo publicado no repositório científico arXiv, o fenômeno tem explicação simples e não representa uma transformação real do cometa.

Para compreender o que aconteceu, é preciso lembrar como funcionam esses visitantes cósmicos:

  • O 3I/ATLAS foi descoberto em julho e atingiu seu ponto mais próximo do Sol em 29 de outubro;
  • As imagens revelaram um brilho azulado mais intenso do que o habitual;
  • A coloração não indica alteração física na superfície ou composição do cometa;
  • O tom azul é causado pela coma gasosa, uma nuvem de gases que reflete a luz solar;
  • O cometa atingirá seu ponto mais próximo da Terra em 19 de dezembro, a cerca de 270 milhões de km.

A origem do brilho e o papel da coma gasosa

Compostos de gelo, poeira e rochas, os cometas são popularmente conhecidos como “bolas de neve sujas”. À medida que se aproximam do Sol, o calor provoca a sublimação do gelo, liberando gases que formam uma coma, uma atmosfera temporária ao redor do núcleo. Essa nuvem gasosa, rica em compostos voláteis como o cianogênio e o carbono diatômico, emite uma luz azul-esverdeada quando excitada pela radiação solar.

Fenômeno do 3I/ATLAS revela efeito óptico da coma gasosa azul (Imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento de imagem: Joseph DePasquale (STScI))
Fenômeno do 3I/ATLAS revela efeito óptico da coma gasosa azul (Imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento de imagem: Joseph DePasquale (STScI))

No caso do 3I/ATLAS, essa emissão se intensificou próximo ao periélio, fazendo o cometa parecer mais azul do que antes. Ou seja, o que mudou não foi a cor real do objeto, mas a forma como sua luz interage com o ambiente solar. O brilho adicional é, portanto, um efeito ótico e químico temporário, não uma alteração estrutural.

Um visitante interestelar e suas pistas sobre outros sistemas

A confirmação de que o 3I/ATLAS não mudou de cor reforça sua importância científica. Assim como o ‘Oumuamua e o 2I/Borisov, ele oferece uma rara oportunidade de estudar materiais formados fora do Sistema Solar. Cada um desses corpos carrega indícios sobre as condições químicas e físicas de outros sistemas planetários.

Mesmo a distância, telescópios como o Hubble e instrumentos do Observatório Gemini Sul seguem monitorando o visitante. A expectativa é que as observações de dezembro, quando o cometa estiver mais próximo da Terra, permitam entender melhor sua composição e trajetória, antes que ele desapareça novamente rumo ao espaço interestelar.

O fascínio continua

Apesar das teorias e especulações, o 3I/ATLAS permanece um fenômeno natural e fascinante, resultado das complexas interações entre luz solar e gases voláteis. A ilusão de mudança de cor só reforça como nosso olhar ainda se surpreende diante da vastidão cósmica e como cada novo cometa interestelar amplia o entendimento sobre a origem e a diversidade dos mundos além do Sol.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.